segunda-feira, 3 de junho de 2013

NO CINEMA COM LAURO FARIA 

      O melhor dos melhores

Há dezenas de listas com os cem melhores filmes de todos os tempos.  E também existem centenas,  listando os dez de cotação máxima.  Em todas elas, normalmente entre os três ou cinco primeiros, está lá: CASABLANCA.
Qual o segredo para um clássico tão antigo (em preto e branco) ostentar essa perenidade?
São muitas as qualidades da fita, a começar por uma história de sabor universal, com personagens bem delineados (dos protagonistas ao mais obscuro coadjuvante), um triângulo amoroso de fazer inveja a qualquer novela global e tendo como pano de fundo a fatídica Segunda Guerra Mundial. E fez-se tão emblemático que jamais foi refilmado; e todas as cogitações de fazê-lo foram descartadas. Não houve continuações; não virou uma franquia.  Há um livro, escrito na América que, corajosamente, inventou um passado de "gangster" para Rick Blaine e, depois dos primeiros acontecimentos, uma aventura de guerra e vingança na Europa Oriental.   Nenhum estúdio pensou em produzir tal continuação.
CASABLANCA teve sua primeira projeção em 26 de Novembro de 1942 (vai fazer 71 anos), em Nova York, em plena guerra; e começa mostrando a cidade – no norte da África, no Marrocos – que era refúgio estratégico e passageiro para o drama de pessoas que tentavam fugir da Europa, ocupada pelos alemães. E neste local repleto de gente de toda espécie (escroques, ingênuos, nazistas e policiais corruptos) se localiza o Bar de Rick –  um verdadeiro microcosmo do mundo real e do cinema – e onde as ocorrências vão congregar todos os gêneros hollywoodianos: drama, comédia, suspense,  ação e romance.  E tudo já foi dito e escrito sobre a obra, que ganhou três “Oscar”: Filme, Diretor e Roteiro Adaptado.  Vamos, aqui, então, apenas relembrar algumas curiosidades.
Ao ser produzido e ter estreado na época do conflito, mais parecia um documentário e, no entanto, a película foi baseada numa peça teatral de pouco ou nenhum sucesso: “Everybody Comes to Rick`s”, de Murray Burnett e Joan Allison.
Comprada pela Warner Brothers, o estúdio convocou os roteiristas-irmãos Julius J. Epstein & Philips G. Epstein, mais os escritores Howard Koch e Casey Robinson (este não foi creditado), e o “script” se transformou – com suas icônicas imagens e frases de efeito – na mais vigorosa história de amor de Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman) que se conhecem na lúdica Paris, se apaixonam – claro – planejam fugir juntos (depois da ocupação pelos invasores alemães), mas na hora H, ela não aparece. E tudo – desde o encontro entre os dois – ao som do piano de Sam (Doodley Wilson) tocando a belíssima AS TIME GOES BY, do compositor H. Hupfeld, de quem não se conhece nenhuma outra  música de relevância.
Dirigida pelo competente artesão Michael Curtiz, a história segue, cheia de peripécias – sendo reescrita enquanto a guerra se intensificava e o filme rodava – quando, dois anos depois, Ilsa – mais bela do que nunca – e casada com um líder da resistência nazista, Victor Laszlo (Paul Henreid), adentra o bar do Rick.  “De todos os bares do mundo e ela entra logo no meu”.  Esta fala de Bogart/Rick foi usada de várias maneiras e em diversas situações parecidas no cinema e na TV, sendo a mais recente no seriado ARROW (do canal por assinatura da própria Warner), uma adaptação moderna do ARQUEIRO VERDE, personagem dos saudosos gibis da extinta EBAL.
A frase “Play it again, Sam”, famosa e inexistente, é dita por Rick de modo parecido: “Toque para mim também, Sam. Se ela agüentou, eu também agüento...”

E o inimitável Bogart, grande profissional, que troca com Ingrid Bergman os mais intensos olhares de paixão, carinho e tesão, quando fora dos “sets” de filmagem, não lhe dava a mínima, já que estava de caso com uma bonita  maquiladora.

As seqüências finais são de tirar o fôlego. Os salvo-condutos que Rick/Bogart escondeu no piano servirão para a fuga deles?  O durão e cínico Rick terá algum gesto altruísta de última hora?  Ilsa/Bergman irá embora com o marido idealista ou permanecerá com o homem da sua vida?  O inescrupuloso Capitão Renault (Claude Rains) ajudará os amantes ou – tal qual na França ocupada – irá colaborar com os nazistas?   O filme inteiro funciona na interpretação dos artistas e na incerteza geral de qual decisão tomar em situações limites.
Se você ainda não viu CASABLANCA, largue tudo, vá a uma locadora de DVD e assista-o.  Eu já o fiz, apenas 25 vezes. (Possuo uma cópia).  Digo “apenas”, porque sei da existência de um velho cinéfilo, detentor de um projetor e um celulóide em 16 mm, que o assiste toda semana, religiosamente, a cerca de cinqüenta anos.  Como o ano tem 52 semanas, é só fazer as contas...
                         
                                 - THE END -

Até breve.                   
Lauro Affonso Faria,   01/06/2013 

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