NO CINEMA COM LAURO FARIA
O melhor dos melhores
O melhor dos melhores
Há dezenas de listas com os cem melhores filmes de
todos os tempos. E também existem centenas,
listando os dez de cotação máxima. Em todas elas, normalmente entre os três ou
cinco primeiros, está lá: CASABLANCA.
Qual o segredo para um clássico tão antigo (em preto e branco) ostentar
essa perenidade?
São muitas as qualidades da fita, a começar por uma
história de sabor universal, com personagens bem delineados (dos protagonistas
ao mais obscuro coadjuvante), um triângulo amoroso de fazer inveja a qualquer
novela global e tendo como pano de fundo a fatídica Segunda Guerra Mundial. E
fez-se tão emblemático que jamais foi refilmado; e todas as cogitações de
fazê-lo foram descartadas. Não houve continuações; não virou uma franquia. Há um livro, escrito na América que,
corajosamente, inventou um passado de "gangster" para Rick Blaine e, depois dos
primeiros acontecimentos, uma aventura de guerra e vingança na Europa Oriental.
Nenhum estúdio pensou em produzir tal
continuação.
CASABLANCA teve sua primeira projeção em 26 de
Novembro de 1942 (vai fazer 71 anos), em Nova York , em plena guerra; e começa mostrando a
cidade – no norte da África, no Marrocos – que era refúgio estratégico e
passageiro para o drama de pessoas que tentavam fugir da Europa, ocupada pelos
alemães. E neste local repleto de gente de toda espécie (escroques, ingênuos,
nazistas e policiais corruptos) se localiza o Bar de Rick – um verdadeiro microcosmo do mundo real e do
cinema – e onde as ocorrências vão congregar todos os gêneros
hollywoodianos: drama, comédia, suspense, ação e romance. E tudo já foi dito e escrito sobre a obra, que
ganhou três “Oscar”: Filme, Diretor e Roteiro Adaptado. Vamos, aqui, então, apenas relembrar algumas
curiosidades.
Ao ser produzido e ter estreado na época do conflito,
mais parecia um documentário e, no entanto, a película foi baseada numa peça
teatral de pouco ou nenhum sucesso: “Everybody Comes to Rick`s”, de Murray
Burnett e Joan Allison.
Comprada pela Warner Brothers, o estúdio convocou os
roteiristas-irmãos Julius J. Epstein & Philips G. Epstein, mais os
escritores Howard Koch e Casey Robinson (este não foi creditado), e o “script”
se transformou – com suas icônicas imagens e frases de efeito – na mais
vigorosa história de amor de Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid
Bergman) que se conhecem na lúdica Paris, se apaixonam – claro – planejam fugir
juntos (depois da ocupação pelos invasores alemães), mas na hora H, ela não
aparece. E tudo – desde o encontro entre os dois – ao som do piano de Sam
(Doodley Wilson) tocando a belíssima AS TIME GOES BY, do compositor H. Hupfeld,
de quem não se conhece nenhuma outra música
de relevância.
Dirigida pelo competente artesão Michael Curtiz, a
história segue, cheia de peripécias – sendo reescrita enquanto a guerra se intensificava
e o filme rodava – quando, dois anos depois, Ilsa – mais bela do que nunca – e
casada com um líder da resistência nazista, Victor Laszlo (Paul Henreid),
adentra o bar do Rick. “De todos os
bares do mundo e ela entra logo no meu”.
Esta fala de Bogart/Rick foi usada de várias maneiras e em diversas
situações parecidas no cinema e na TV, sendo a mais recente no seriado ARROW (do
canal por assinatura da própria Warner), uma adaptação moderna do ARQUEIRO VERDE,
personagem dos saudosos gibis da extinta EBAL.
A frase “Play it again, Sam”, famosa e inexistente, é
dita por Rick de modo parecido: “Toque para mim também, Sam. Se ela agüentou,
eu também agüento...”
E o inimitável Bogart, grande profissional, que troca
com Ingrid Bergman os mais intensos olhares de paixão, carinho e tesão, quando
fora dos “sets” de filmagem, não lhe dava a mínima, já que estava de caso com
uma bonita maquiladora.
As seqüências finais são de tirar o fôlego. Os
salvo-condutos que Rick/Bogart escondeu no piano servirão para a fuga
deles? O durão e cínico Rick terá algum
gesto altruísta de última hora?
Ilsa/Bergman irá embora com o marido idealista ou permanecerá com o
homem da sua vida? O inescrupuloso
Capitão Renault (Claude Rains) ajudará os amantes ou – tal qual na França
ocupada – irá colaborar com os nazistas?
O filme inteiro funciona na interpretação dos artistas e na incerteza
geral de qual decisão tomar em situações limites.
Se você ainda não viu CASABLANCA, largue tudo, vá a
uma locadora de DVD e assista-o. Eu já o
fiz, apenas 25 vezes. (Possuo uma cópia).
Digo “apenas”, porque sei da existência de um velho cinéfilo, detentor
de um projetor e um celulóide em 16 mm, que o assiste toda semana,
religiosamente, a cerca de cinqüenta anos.
Como o ano tem 52 semanas, é só fazer as contas...
- THE END -
Até breve.
Lauro Affonso Faria, 01/06/2013
Lauro Affonso Faria, 01/06/2013
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