quarta-feira, 12 de junho de 2013


DO MORRO DA GUIA...

29 – PASSO DE LOS LIBRES/URUGUAIANA

No céu, a lua gigante e prateada, digna da Praia do Forte, atravessava as grades do vagão produzindo um efeito fantasmagórico nos nossos rostos. Fumamos (ainda se fumava naquela época) e conversamos um pouco antes de pregar os olhos. O Carlos e eu despertamos várias vezes para checar a hora. O Lauro que conseguiria dormir dentro de um bidê, roncava. Antes de amanhecer estávamos despertos e com as mochilas preparadas; pouco tempo depois avistamos luzes ao longe. Com as tralhas a postos, abrimos os portões do vagão e nos postamos no engate –entre um e outro vagão-. As luzes se aproximavam enquanto aguardávamos uma chance de pular. O trem corria demais e nós adiando o momento do salto... É agora... não... agora... não. Mas o santo protetor dos mochileiros fez com que o trem, por causa de uma longa curva, reduzisse a velocidade. Saiu em coro: é JÁ!!  Atiramos as mochilas e em seguida a nós próprios, caindo a 50 m, afastados, uns dos outros. Perfeito como numa cena de faroeste ...e ninguém se  feriu.  O dia clareava enquanto caminhávamos rente aos trilhos procurando a  estrada que nos levaria à fronteira com o Brasil.

Passando em frente a uma fazendola, pedimos a um senhorzinho se podíamos tomar leite. Podíamos. Alguns canecos de leite depois, voltamos ao asfalto. Mais meia hora de caminhada, avistamos dois tratores aproximando-se lentamente. De perto, notamos serem ceifadoras de trigo exibindo um bainer “Vamos a Brasil”. O Lauro desfraldou  a bandeira brasileira, aos pulos, no meio do asfalto. Escalamos os seis metros de altura da máquina e viajamos monótonos 100 quilômetros à velocidade de média de 30 km/hora.  Pintou vinho, queijo e salaminho ofertados pelos operadores.  Alcançamos a fronteira e ali nos despedimos do excelente vinho argentino.

Passo de Los Libres, limite com Uruguaiana. Isto significava a um passo do feijão, talvez o que mais nos fez falta... Depois de resolver a burocracia da Aduana argentina, entramos, exatamente às 14:30 horas, em nosso país.  O problema da vez era ir de Uruguaiana à Porto Alegre, distância aproximada de 650 km. Dia de Finados e sábado. As empresas de transporte de carga fechadas e nas estradas o trânsito era nenhum. Só ônibus. Quando o funcionário da Aduana brasileira mandou que abríssemos as mochilas nos olhamos com grande desânimo. Abrir, esvaziar, rearrumar não é nada agradável. Havíamos feito isso há 15 minutos do outro lado.


Além disso, tínhamos uma certa pressa em sair dali pois queríamos passar o domingo na capital gaúcha. O funcionário, tolerante, concordou conosco: “Esta certo, rapazes. Afinal vocês estão em casa...” Então, tivemos a petulância de oferecer, à venda, baratinho!, ao funcionário federal a derradeira blusa de caxemira. Seria demais. Decidimos torrar o resto da grana e ir de ônibus; fomos para a rodoviária. Enquanto resolvíamos as questões das passagens, o Lauro incumbiu-se de vender a blusa; conseguiu apenas vender o isqueiro...

                                                                      Continua...

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