DO MORRO DA GUIA...
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ASSUNCION. Cidade bonita, limpa, casas luxuosas, embora um
pouco sem sal. Não sendo colonial, mostra arquitetura meio indefinida. O povo é
trabalhador mas observamos viver de cabeça baixa. Oprimido? Não deu para
descobrir e nem era o objetivo. Nas ruas, éramos olhados de maneira estranha e
até assustadora. Seria pelas barbas ou cabelos compridos? Pode ser que sim. Nesse mesmo dia, pela manhã, chegaram e
ficaram hospedados mais dois andarilhos. Robert, norte-americano e Itapuy,
brasileiro. Juntamo-nos e saímos passeando pela cidade, alheios aos olhares
curiosos e assovios provocativos. À tarde, seguindo conselho de um dos
dirigentes da ACJ procuramos o cônsul brasileiro. O homem era carioca e ainda
conservava o espírito da terrinha. O Consulado não poderia nos conseguir
qualquer atividade e por isso, ofertou de seu próprio bolso uma nota de 500
guaranis. Com a auto estima elevada nos dirigimos ao endereço
do Embaixador, quem sabe... Resultado: mais 500 guaranis. Depois do almoço num pequeno restaurante,
regado a vinho barato visitamos uma menina –muito interessante, por sinal- que conhecêramos casualmente na
rua. Permanecemos em sua casa até o anoitecer ouvindo-a tocar harpa. Além de
clássicos tocou a nosso pedido um par de
guarânias, a música típica de sua
terra.
Era Domingo, 29/09. A ACJ não abria e por isso ficamos
zanzando nas ruas. Nós cinco. Descobrimos que grana demais atrapalha...! Surgiu
uma pequena dúvida: Não sabíamos se economizávamos ou gastávamos o dinheiro
numa boa farra...Ora, ora!
Na hora do almoço (força de expressão pois não tínhamos
horário certo pra nada) saímos para comprar frutas, alguns legumes e pão. Já perto de um mercado
avistamos, numa calçada, uma senhora cozinhando algo. Nos aproximamos: arroz,
carne, macarrão e pão, servidos tipo PF.
Em volta do panelão, muita gente. Preço: 20 guaranis. Nem confabulamos,
sentamo-nos todos na calçada. Era um
ambiente deveras democrático: bêbados virados da noite, estudantes,
desocupados, caipiras e agora nós, andarilhos. O Robert comprou duas garrafas
de vinho –padrão razoável- copos plásticos e fizemos a roda. Cada um com o seu
prato e a garrafa circulando de mão em mão.
E lembrar que dias antes almoçáramos em Cassino de Oficiais e em hotéis de
razoável categoria. Após o lauto
almoço-de-cinco-talheres, como nada havia para fazer, continuamos o passeio
pela cidade. De todos os lados, assovios. Os ônibus reduziam a marcha ou paravam para nos olhar e as pessoas, das janelas, diziam coisas
ininteligíveis (em Guarani). Então combinamos: Quando os ônibus reduzissem a
velocidade, subiríamos para... passear.
Que susto a pobre gente levava! Dentro do carro aquele silêncio de velório, as
pessoas sussurrando e olhando para o teto... Algumas quadras diante perguntávamos sobre qualquer rua ao
motorista... que desconhecendo, parava o carro e nós descíamos. Simples. Desse jeito –irônico-
conhecemos grande parte da cidade.
Continua...
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