terça-feira, 4 de junho de 2013


DO MORRO DA GUIA...

19 - NOS TRENS DE CARGA

Um novo dia: depois das despedidas partimos em busca de outros destinos;  na carroceria de um caminhão de cimento, andamos mais ou menos uns 20 km e saltamos empolgados e cheios de pó de cimento. O motorista nos aconselhou a trocar de estrada. O mesmo caminhão nos levou de  volta para o ponto anterior. Descemos da carroceria com  menos ânimo e mais cimento no corpo. Perdêramos muito tempo mas como estávamos soltos no espaço e sem problema de tempo, nos dirigimos à outra rodovia. Dessa vez, a pé.

No fim da zona urbana de Lujan de Cuyo, paramos para tentar almoçar. Após algumas tentativas, conseguimos serviço num restaurante. Deu algum trabalho para convencer mas finalmente ficou acertada a tarefa de limpar um depósito e empilhar caixas de vinho. Duas horas depois, estávamos almoçando como um Nero, ou melhor, como três Neros. A sobremesa foi sair à estrada em plena chuva, felizes como  meninos, cantando canções cujos temas deviam   versar sobre  a chuva.

A estrada era acompanhada, nas duas margens, por imensas árvores floridas de amarelo vivo. O amarelo das flores sobre o asfalto molhado resultava um efeito mágico. 
Depois de muito caminhar, paramos para descansar. Perto havia uma casa, bem humilde. Pedimos para encher com água os nossos cantis e o colono, homem simples,  nos perguntou se queríamos tomar um café “caliente”. Convidou-nos a entrar  na pequena sala, conversando em portunhol. A sua esposa surgiu e começou a preparar a mesa com uma toalha e guardanapos muito brancos. Trouxe as xícaras  e o pão   caseiro. Dava gosto vivenciar aquela cena. Ela, orgulhosa, procurando mostrar o que tinha de mais bonito em sua casa. Veio o café no bule de louça, ainda novinho, e nós o tomamos, sorvendo, degustando, com um prazer maior que o normal.

Mais tarde, quem sabe, ela diria para os seus filhos que certa vez recebera em sua casa “uns barbudos, de mochilas”. Mais tarde, também falaríamos  para os nossos filhos a respeito daquele momento sublime, onde tomamos um dos melhores cafés de nossas vidas. E por certo nos comoveríamos.

Prosseguimos até Blanco Encalado. Eram 18 h e a chuva  persistia trazendo um friozinho cortante. Na estação ferroviária, os termômetros apontavam 6 graus. Aguardamos um trem de carga que chegou às 23:00h. Depois de muita insistência o guarda e o maquinista aceitaram nos levar até Polvoredas. Subimos na própria locomotiva e viajamos confortavelmente, próximos ao calor das  máquinas. Era a  primeira carona de trem.


                                                                                Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário