DO MORRO DA GUIA...
19 - NOS TRENS DE CARGA
Um novo dia: depois das despedidas partimos em busca de
outros destinos; na carroceria de um caminhão de cimento, andamos mais ou
menos uns 20 km e saltamos empolgados e cheios de pó de cimento. O motorista nos
aconselhou a trocar de estrada. O mesmo caminhão nos levou de volta para o ponto anterior. Descemos da
carroceria com menos ânimo e mais
cimento no corpo. Perdêramos muito tempo mas como estávamos soltos no espaço e
sem problema de tempo, nos dirigimos à outra rodovia. Dessa vez, a pé.
No fim da zona urbana de Lujan de Cuyo, paramos para tentar almoçar.
Após algumas tentativas, conseguimos serviço num restaurante. Deu algum
trabalho para convencer mas finalmente ficou acertada a tarefa de limpar um
depósito e empilhar caixas de vinho. Duas horas depois, estávamos almoçando
como um Nero, ou melhor, como três Neros. A sobremesa foi sair à estrada em
plena chuva, felizes como meninos,
cantando canções cujos temas deviam versar sobre a chuva.
A estrada era acompanhada, nas duas margens, por imensas
árvores floridas de amarelo vivo. O amarelo das flores sobre o asfalto molhado
resultava um efeito mágico.
Depois de muito caminhar, paramos para descansar.
Perto havia uma casa, bem humilde. Pedimos para encher com água os nossos
cantis e o colono, homem simples, nos
perguntou se queríamos tomar um café “caliente”. Convidou-nos a entrar na pequena sala, conversando em portunhol. A sua esposa surgiu e começou
a preparar a mesa com uma toalha e guardanapos muito brancos. Trouxe as xícaras e o pão caseiro. Dava gosto vivenciar aquela cena.
Ela, orgulhosa, procurando mostrar o que tinha de mais bonito em sua casa. Veio
o café no bule de louça, ainda novinho, e nós o tomamos, sorvendo, degustando,
com um prazer maior que o normal.
Mais tarde, quem sabe, ela diria para os seus filhos que
certa vez recebera em sua casa “uns barbudos, de mochilas”. Mais tarde, também falaríamos para os nossos filhos a
respeito daquele momento sublime, onde tomamos um dos melhores cafés de nossas
vidas. E por certo nos comoveríamos.
Prosseguimos até Blanco Encalado. Eram 18 h e a chuva persistia trazendo um friozinho cortante. Na
estação ferroviária, os termômetros apontavam 6 graus. Aguardamos um trem de
carga que chegou às 23:00h. Depois de muita insistência o guarda e o maquinista
aceitaram nos levar até Polvoredas. Subimos na própria locomotiva e viajamos
confortavelmente, próximos ao calor das
máquinas. Era a primeira carona
de trem.
Continua...
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