terça-feira, 25 de junho de 2013



À MARGEM DO RIO EUFRATES  -  CRÔNICAS

-08-
Comunicação
 Ao longo da construção da ferrovia foi desenvolvida uma linguagem própria, melhor, um dialeto –Mendês- para a necessária comunicação com os árabes: um misto de português, inglês e  árabe com pitadas de italiano que com o passar dos dias, chegou a funcionar de modo satisfatório. Exemplo de uma conversa com o motorista:- Anta stop here. Ana vai shuf manjaria e come back  em hamsa minuts...   (Tradução: Você espera aqui.  Eu  vou  ver comida e volto  em cinco minutos).
Mas também poderiam ocorrer cenas inusitadas como esta em Ramadi, numa feira de rua:
- Como será TOMATE em árabe ?  Perguntei ao  colega brasileiro.
O feirante ouviu a palavra chave e prontamente...
- AKO TOMATE !!  (Tem tomate !!)
Ou seja, tomate em árabe é... tomate.


 Choque cultural   

Automóveis – Os táxis (principalmente) e automóveis comuns, exageram nos enfeites e penduricalhos:  cortininhas , bichinhos e uma gama de enfeites dourados, o que para os padrões ocidentais seriam considerados brega.
O uso indiscriminado da buzina contribui para a enorme poluição sonora. Depois de algum tempo expostos, caminhando pelas ruas, somos tomados por certo desconforto auditivo .

Mulheres -  As iraquianas são, de modo geral, muito bonitas com seus olhos e cabelos negros.  Ainda hoje é normal vê-las nas carrocerias das picapes  pois as cabines são exclusivas dos homens, maridos ou não. O motorista leva o filho,  criança ou não,  na cabine; a esposa na carroceria.  E durante a refeição, primeiramente os homens são servidos, depois então as mulheres. Ou seja, ainda são vistas quase que exclusivamente para reprodução.

Amizade - É comum ver homens na rua conversando ou simplesmente caminhando de mãos dadas. É prova de amizade.  Tão natural quanto a nós brasileiros colocarmos o braço sobre o ombro do amigo.

Talheres – Exceto Bagdá e outras cidades de porte médio, é raro o uso de talheres nas refeições.  No interior, e relativo às classes menos favorecidas, é perfeitamente comum o uso das mãos diretamente na comida.   Aliás, só a mão direita pois a esquerda é usada para a higiene íntima.

Alimentos - Excluindo o feijão e obviamente a carne de porco (proibida pelo Islamismo) encontramos no comércio quase todos os produtos a que estamos acostumados.  As frutas são deliciosas:  tâmaras, melancias (muito doces), amoras e romãs  são abundantes.  O pepino é consumido tal como  as bananas  no Brasil; tão popular que é saboreado  naturalmente na calçada ou no ponto de ônibus.  Detalhe: não é tão indigesto quanto o nosso; é  leve e com sabor diferenciado, lembrando o pepino japonês. A carne de carneiro é a utilizada no dia a dia.

O clima  - O verão é bravo e a temperatura mais ao Norte do país pode alcançar os 50 graus, sendo o clima bem seco, tornando difícil a transpiração. No entanto, no inverno, por estranho que seja, a temperatura baixa demais sendo comum chegar a 2 ou 3 graus.  Pela manhã para sair com o carro, era rotina jogar água morna no para brisas  para dissolver o gelo.
Talvez a maioria dos funcionários tenha viajado à Bagdá no intuito de comprar agasalhos; não simples agasalhos mas aqueles próprios para  neve. Eram usados, adquiridos nos Souqs (mercados) perfeitamente higienizados e importados da Europa. As crianças (todas!) do Acampamento 215 pareciam pequenos ursos com seus capotes e capuzes peludos.
Observação: Os aparelhos de ar condicionado das casas eram os únicos eletrodomésticos que não descansavam: ora refrigerando,  ora aquecendo, dioturnamente.

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                                                                    Continua...

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