À MARGEM DO RIO EUFRATES - CRÔNICAS
-08-
Comunicação –
Ao longo da construção
da ferrovia foi desenvolvida uma linguagem própria, melhor, um dialeto –Mendês- para a
necessária comunicação com os árabes: um misto de português, inglês e árabe com pitadas de italiano que com o
passar dos dias, chegou a funcionar de modo satisfatório. Exemplo de uma conversa
com o motorista:- Anta stop here. Ana vai shuf manjaria e come back em
hamsa minuts... (Tradução: Você espera aqui. Eu vou ver comida
e volto em cinco minutos).
Mas também poderiam ocorrer cenas inusitadas como esta em
Ramadi, numa feira de rua:
- Como será TOMATE em árabe ?
Perguntei ao colega brasileiro.
O feirante ouviu a palavra chave e prontamente...
- AKO TOMATE !! (Tem tomate
!!)
Ou seja, tomate em árabe é... tomate.
Choque cultural
Automóveis – Os táxis (principalmente) e automóveis comuns, exageram nos enfeites e penduricalhos: cortininhas , bichinhos e uma gama de enfeites dourados, o que para os padrões ocidentais seriam considerados brega.
O uso indiscriminado da buzina contribui para a enorme
poluição sonora. Depois de algum tempo expostos, caminhando pelas ruas, somos
tomados por certo desconforto auditivo .
Mulheres - As iraquianas são, de modo geral, muito bonitas com seus olhos e cabelos negros. Ainda hoje é normal vê-las nas carrocerias das picapes pois as cabines são exclusivas dos homens, maridos ou não. O motorista leva o filho, criança ou não, na cabine; a esposa na carroceria. E durante a refeição, primeiramente os homens são servidos, depois então as mulheres. Ou seja, ainda são vistas quase que exclusivamente para reprodução.
Amizade - É comum ver homens na
rua conversando ou simplesmente caminhando de mãos dadas. É prova de
amizade. Tão natural quanto a nós
brasileiros colocarmos o braço sobre o ombro do amigo.
Talheres – Exceto Bagdá e outras cidades de porte médio, é raro o uso de talheres nas refeições. No interior, e relativo às classes menos favorecidas, é perfeitamente comum o uso das mãos diretamente na comida. Aliás, só a mão direita pois a esquerda é usada para a higiene íntima.
Alimentos - Excluindo o feijão e obviamente a carne de porco (proibida pelo Islamismo) encontramos no comércio quase todos os produtos a que estamos acostumados. As frutas são deliciosas: tâmaras, melancias (muito doces), amoras e romãs são abundantes. O pepino é consumido tal como as bananas no Brasil; tão popular que é saboreado naturalmente na calçada ou no ponto de ônibus. Detalhe: não é tão indigesto quanto o nosso; é leve e com sabor diferenciado, lembrando o pepino japonês. A carne de carneiro é a utilizada no dia a dia.
O clima - O verão é bravo e a temperatura mais ao Norte do país pode alcançar os 50 graus, sendo o clima bem seco, tornando difícil a transpiração. No entanto, no inverno, por estranho que seja, a temperatura baixa demais sendo comum chegar a 2 ou 3 graus. Pela manhã para sair com o carro, era rotina jogar água morna no para brisas para dissolver o gelo.
Talvez a maioria dos funcionários tenha viajado à Bagdá no
intuito de comprar agasalhos; não simples agasalhos mas aqueles próprios para neve. Eram usados, adquiridos nos Souqs (mercados) perfeitamente
higienizados e importados da Europa. As crianças (todas!) do Acampamento 215 pareciam
pequenos ursos com seus capotes e capuzes peludos.
Observação: Os aparelhos de ar condicionado das casas eram os
únicos eletrodomésticos que não descansavam: ora refrigerando, ora aquecendo, dioturnamente.
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Continua...
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