À MARGEM DO RIO
EUFRATES - CRÔNICAS
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HABANIYAH
Às sextas-feiras, equivalentes aos
domingos no Ocidente, vez ou outra o
grupo que morava na república de Ramadi, fugia para Habaniyah, próximo a Bagdá,
um centro turístico padrão primeiro mundo, com um grande lago artificial de
águas azuis, hotel, restaurante e também chalés para locação. Parecia um “outro
país” não só com relação a infra-estrutura como também pelo padrão de
atendimento, freqüência e descontração do ambiente.
Esse complexo havia sido
construído e estava sendo administrado
por um grupo francês, o que explicava o clima
europeu.
Apesar das barreiras linguísticas
era possível total integração entre
brasileiros e árabes. Lembro que certo dia,
ao promovermos uma roda de samba, nos surpreendemos sendo acompanhados
por músicos nativos com seus instrumentos típicos. Tal miscelânea resultava
numa coreografia surpreendentemente exótica: misto de dança do ventre com samba no pé, sendo que as letras das músicas
eram perseguidas na base de indecisões e risos. Sempre o riso, esse catalisador
universal.
Mais de uma vez ocorreu de algum
espectador, geralmente europeu, nos oferecer Dinares
para cantar a “Aquarela du
Brèsil”. Sem nos fazer de rogados, logo
o cachê era convertido em cervejas Heineken enquanto, com o devido perdão de Ary Barroso,
improvisava-se a segunda parte do samba.
Não raro, simultaneamente ao
samba, pintava um racha no campo ao lado da piscina. Árabes atrapalhados com
suas dasdachas contra brasileiros, pernas-de-pau ou não; porém o
mais difícil era escolher o árbitro. Distribuir os times era complicado, mas
apitar era pior: terrivelmente desastroso. Os gritos –como gritam os árabes! -
ininteligíveis, soavam como ofensas às nossas genitoras. E
vice-versa, quero crer. Enfim, com boa vontade tudo se acertava e bola pra
frente que dia seguinte seria sábado...início de uma dura e poeirenta semana de
batente.
No final de outubro, quase três meses depois de
nossa chegada, já com algumas casas montadas e mobiliadas, vieram as primeiras famílias e nós, pioneiros,
tivemos o privilégio de hospedar mulher
e filhos no balneário de Habbaniya por uma semana. Cortesia da empresa.
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Dinares – Moeda local
Dasdacha – Traje típico masculino, tipo camisolão, comprida até os
pés.
Continua...
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