quarta-feira, 26 de junho de 2013

À MARGEM DO RIO EUFRATES -   CRÔNICAS

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HABANIYAH


Às sextas-feiras, equivalentes aos domingos no Ocidente,  vez ou outra o grupo que morava na república de Ramadi, fugia para Habaniyah, próximo a Bagdá, um centro turístico padrão primeiro mundo, com um grande lago artificial de águas azuis, hotel, restaurante e também chalés para locação. Parecia um “outro país” não só com relação a infra-estrutura como também pelo padrão de atendimento, freqüência e descontração do ambiente.

Esse complexo havia sido construído e estava sendo  administrado por um grupo francês, o que explicava o clima europeu.

Apesar das barreiras linguísticas era possível  total integração entre brasileiros e árabes. Lembro que certo dia,  ao promovermos uma roda de samba, nos surpreendemos sendo acompanhados por músicos nativos com seus instrumentos típicos. Tal miscelânea resultava numa coreografia surpreendentemente exótica: misto de dança do ventre com  samba no pé, sendo que as letras das músicas eram perseguidas na base de indecisões e risos. Sempre o riso, esse catalisador universal.

Mais de uma vez ocorreu de algum espectador,  geralmente europeu, nos  oferecer Dinares  para cantar a “Aquarela  du Brèsil”.  Sem nos fazer de rogados, logo o cachê era convertido em cervejas Heineken  enquanto,  com o devido perdão de Ary Barroso, improvisava-se a segunda parte do samba.

Não raro, simultaneamente ao samba, pintava um racha no campo ao lado da piscina. Árabes atrapalhados com suas dasdachas contra  brasileiros, pernas-de-pau ou não; porém o mais difícil era escolher o árbitro. Distribuir os times era complicado, mas apitar era pior: terrivelmente desastroso. Os gritos –como gritam os árabes! - ininteligíveis,   soavam como ofensas às nossas genitoras. E vice-versa, quero crer. Enfim, com boa vontade tudo se acertava e bola pra frente que dia seguinte seria sábado...início de uma dura e poeirenta semana de batente.

No final de outubro, quase três meses depois de nossa chegada, já com algumas casas   montadas e mobiliadas,  vieram as primeiras famílias e nós, pioneiros, tivemos o privilégio de hospedar  mulher e filhos no balneário de  Habbaniya  por uma semana.  Cortesia da empresa.

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Dinares – Moeda local
Dasdacha – Traje típico masculino, tipo camisolão, comprida até os pés.
                    

                      SAMIRA NO "LAGO HABANYIA" - 1979


                                                                    Continua...

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