segunda-feira, 10 de junho de 2013

DO MORRO DA GUIA...

27 - RUMO À FRONTEIRA COM O BRASIL

Mais uma despedida. Ali estava a rodovia para Santa Fé. Ali ficava o Estevan com seus metro e oitenta de sensibilidade; os olhos marejados.

A tarde se arrastou e nós pouco progredimos.  No sentido contrário do que queríamos ir, parou um Torino (o carro de corridas que nos persegue...) e desceu um senhor sorridente e falando português tão fluente que o julgamos patrício. Era paraguaio que morara no Brasil; vendo  a nossa bandeira parou por curiosidade e até  levou-nos ao centro da cidadezinha. Cansados de insistir nas caronas, resolvemos tomar um trem até Rosário.  Saímos às 22:00 h.

Viajamos confortavelmente sem contudo ver a paisagem. Às cinco da matina chegamos em Rosário, grande polo industrial. Caminhamos em direção ao Porto na tentativa de embarcar num navio com destino à nossa terra. Sem chance.  Voltamos à Ruta 11. De um posto de combustíveis, uma picape levou-nos até uma patrulha rodoviária.  Escrevemos num grande papelão:  “BRASILEÑOS DA ASSOCIACIÓN CRISTIANA DE JÓVENES”, e nos colocamos à espera. Depois de curtas caronas de automóvel e uma de caminhão chegamos à Santa Fé; este último motorista nos deus uma sacola com  morangos.

A entrada da cidade de Santa Fé é algo de grandioso; paralelamente plantados junto ao acostamento, em ambos os lados da estrada, enormes jacarandás cobertos de flores lilases. Parecia pintura. Mais a frente, no  Rio Paraná atravessamos numa grande lancha para a cidade de mesmo nome. A viagem por este rio nos mostra cenários curiosos: a água barrenta forma pequenas praias de areia grossa, amarela; aqui e ali, barcos melancolicamente à deriva. O rio parecia triste. Ou éramos nós?

Encontramos um  açougue abandonado. Misturamos leite e os morangos em uma caçarola  e lanchamos. Entramos, varremos o local com uma vassoura de arbustos e nos enfiamos nos sacos de dormir.  Antes, demos um VIVA! à nossa liberdade.

Trepados num velho caminhão com tijolos, alcançamos uma bifurcação. Infelizmente os carros que passavam iam,  todos, na direção oposta. Resolvemos então almoçar num pequeno restaurante.  Ali a sorte mudaria. Comemos bife a milanesa e “papas fritas”. Quando estávamos terminando a refeição, surge uma camionete com três senhores vestidos exatamente iguais: calças pretas e camisas brancas, alvíssimas. “Para onde vão vocês, meus jovens?”  oferecendo-nos vinho e também a carona. (eles é que ofereceram...) Ao explicarmos que a nossa dificuldade nas caronas talvez fosse pelas barbas e pelos trajes,  um deles retrucou:  “É,  meu jovem. Há muita gente ignorante... Eu, por exemplo, tenho mais medo é das pessoas com terno e gravata...!”


                                                                    Continua...

                                                     





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