DO MORRO DA GUIA...
27 - RUMO À FRONTEIRA COM O BRASIL
Mais uma despedida. Ali estava a rodovia para Santa Fé. Ali
ficava o Estevan com seus metro e oitenta de sensibilidade; os olhos marejados.
A tarde se arrastou e nós pouco progredimos. No sentido contrário do que queríamos ir,
parou um Torino (o carro de corridas que nos persegue...) e desceu um senhor
sorridente e falando português tão fluente que o julgamos patrício. Era paraguaio
que morara no Brasil; vendo a nossa bandeira
parou por curiosidade e até levou-nos ao
centro da cidadezinha. Cansados de insistir nas caronas, resolvemos tomar um
trem até Rosário. Saímos às 22:00 h.
Viajamos confortavelmente sem contudo ver a paisagem. Às
cinco da matina chegamos em Rosário, grande polo industrial. Caminhamos em
direção ao Porto na tentativa de embarcar num navio com destino à nossa terra. Sem
chance. Voltamos à Ruta 11. De um posto
de combustíveis, uma picape levou-nos até uma patrulha rodoviária. Escrevemos num grande papelão: “BRASILEÑOS DA ASSOCIACIÓN CRISTIANA DE
JÓVENES”, e nos colocamos à espera. Depois de curtas caronas de automóvel e
uma de caminhão chegamos à Santa Fé; este último motorista nos deus uma sacola
com morangos.
A entrada da cidade de Santa Fé é algo de grandioso;
paralelamente plantados junto ao acostamento, em ambos os lados da estrada,
enormes jacarandás cobertos de flores lilases. Parecia pintura. Mais a frente,
no Rio Paraná atravessamos numa grande
lancha para a cidade de mesmo nome. A viagem por este rio nos mostra cenários
curiosos: a água barrenta forma pequenas praias de areia grossa, amarela; aqui
e ali, barcos melancolicamente à deriva. O rio parecia triste. Ou éramos nós?
Encontramos um açougue
abandonado. Misturamos leite e os morangos em uma caçarola e lanchamos. Entramos, varremos o local com
uma vassoura de arbustos e nos enfiamos nos sacos de dormir. Antes, demos um VIVA! à nossa liberdade.
Trepados num velho caminhão com tijolos, alcançamos uma
bifurcação. Infelizmente os carros que passavam iam, todos, na direção oposta. Resolvemos então almoçar
num pequeno restaurante. Ali a sorte
mudaria. Comemos bife a milanesa e “papas fritas”. Quando estávamos terminando
a refeição, surge uma camionete com três senhores vestidos exatamente iguais:
calças pretas e camisas brancas, alvíssimas. “Para onde vão vocês, meus
jovens?” oferecendo-nos vinho e também a
carona. (eles é que ofereceram...) Ao explicarmos que a nossa dificuldade nas
caronas talvez fosse pelas barbas e pelos trajes, um deles retrucou: “É, meu
jovem. Há muita gente ignorante... Eu, por exemplo, tenho mais medo é das
pessoas com terno e gravata...!”
Continua...
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