domingo, 9 de junho de 2013

                  CONTO
            MARILYN MONROE:  A TARDE EM QUE A PERDI
MT

M
Tinha lá meus  quatorze anos e já não era tão inocente assim. Até já havia dado uma bimbada no bordel  da cidade e pra falar a verdade,  dei até uma gorjeta de dez por cento.  Acho que foi dez. Hoje já não se fala bimbada, é transa, né...?

- Poxa...

Nessa época, olha que sorte, tive a felicidade de conhecer a Marilyn Monroe –ela mesma !- que,  na intimidade eu chamava de  Marilynha. Isso foi logo depois dela ter posado para a Play Boy americana lá pelos idos de 1953.  Eu havia conseguido um pôster da revista,  nº 0, onde ela estava deitada , peladinha, sobre um lençol de cetim vermelho.  Só vendo, cara...

- Poxa...

Claro que me apaixonei. Perdidamente. Você não se apaixonaria ? Com toda a minha experiência de vida, confesso que  enlouqueci. Escute só: descobri, através da revista Cinelândia, o seu endereço  em Los Angelis,  e enviei uma carta super carinhosa, junto ao pôster, pedindo o seu autógrafo. Sabe o que aconteceu?  ela não só o autografou –bem por cima daqueles pelinhos dourados- como prometeu visitar-me assim que viesse ao Brasil.

- Poxa...

 Mentira é o caceta! Olha, na verdade não sei como ela se agradou de mim, a cara cheia de espinhas, franzino, com os braços finos que nem graveto.  O osso do punho era tão pontudo que o Dr. –esqueci o nome...- falou com a minha mãe que eu devia tomar umas vitaminas e fazer exercícios. O filho da mãe  me sacaneou e disse que eu nem precisava de radiografia do tórax:  as minhas costelas pareciam um limpa-trilho de trem.  Aqui pra ele, ó...

- Poxa...

Ô tempo bom... Toda tarde, lá pras quatro, quatro e meia, me trancava no banheiro com ela. Dizia que ia tomar banho. Ô meu irmão, ela adorava. Não era mole não, eram  duas,  três,  sem tirar a ... O quê? Mentira? Com uma louraça daquelas, rapá... Cê acha qu’eu tava franzino e amarelo, por quê?

- Poxa...

Minha mãe esbravejava na porta: “Sai daí, menino, quase uma hora pra tomar um banho...”  “Já vou mãe, estou quase conseguin... err... acabando...”
- O que você está fazendo aí?
- Exercício, mãe. Tô exercitando os braços... O doutor  não mandou?

Pior de tudo, foi que o meu pai reparou qu’eu tava meio cinzento -falou assim- com os olhos fundos e teria que voltar ao médico –o mesmo, pôxa!  Sozinho,  pois já era um rapazinho. Tá bom, lá fui eu.  Você sabe que o filho da mãe do doutor, com aquele  troço pendurado nos ouvidos e que na outra ponta tem uma chapinha de aço, sabe? Encostou no peito, escutou, escutou e reclamou que estava com um barulho estranho. Claro, eram minhas bolas de gude e o pôster de minha namorada,  dobrado, no bolso da camisa.


Poxa...

E aí...? E aí? Adivinha. Quando ele viu o pôster endoidou, meu camarada. Tomou na mão grande, disse que iria falar com o meu pai, essas coisas. Me sacaneou. Uma tremenda covardia, pô!  Também...,era um cara alto, moreno,   olho azul, sei não... O que você acha?

Poxa...

Nunca mais vi a Marilynha... Acho que ela me traiu... O que você acha...? Tá bom, não precisa responder...

JPC-2010





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