CONTO
MARILYN MONROE: A TARDE EM QUE A PERDI
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Tinha lá meus quatorze
anos e já não era tão inocente assim. Até já havia dado uma bimbada no
bordel da cidade e pra falar a verdade, dei até uma gorjeta de dez por cento. Acho que foi dez. Hoje já não se fala bimbada,
é transa, né...?
- Poxa...
Nessa época, olha que sorte, tive a felicidade de conhecer
a Marilyn Monroe –ela mesma !- que, na
intimidade eu chamava de Marilynha. Isso
foi logo depois dela ter posado para a Play Boy americana lá pelos idos de
1953. Eu havia conseguido um pôster da
revista, nº 0, onde ela estava deitada ,
peladinha, sobre um lençol de cetim vermelho.
Só vendo, cara...
- Poxa...
Claro que me apaixonei. Perdidamente. Você não se
apaixonaria ? Com toda a minha experiência de vida, confesso que enlouqueci. Escute só: descobri, através da
revista Cinelândia, o seu endereço em
Los Angelis, e enviei uma carta super
carinhosa, junto ao pôster, pedindo o seu autógrafo. Sabe o que aconteceu? ela não só o autografou –bem por cima daqueles
pelinhos dourados- como prometeu visitar-me assim que viesse ao Brasil.
- Poxa...
Mentira é o caceta! Olha, na verdade não sei como ela se
agradou de mim, a cara cheia de espinhas, franzino, com os braços finos que nem
graveto. O osso do punho era tão pontudo
que o Dr. –esqueci o nome...- falou com a minha mãe que eu devia tomar umas
vitaminas e fazer exercícios. O filho da mãe me sacaneou e disse que eu nem precisava de
radiografia do tórax: as minhas costelas
pareciam um limpa-trilho de trem. Aqui
pra ele, ó...
- Poxa...
Ô tempo bom... Toda tarde, lá pras quatro, quatro e meia, me
trancava no banheiro com ela. Dizia que ia tomar banho. Ô meu irmão, ela adorava.
Não era mole não, eram duas, três, sem tirar a ... O quê? Mentira? Com uma
louraça daquelas, rapá... Cê acha qu’eu tava franzino e amarelo, por quê?
- Poxa...
Minha mãe esbravejava na porta: “Sai daí, menino, quase uma
hora pra tomar um banho...” “Já vou mãe,
estou quase conseguin... err... acabando...”
- O que você está fazendo aí?
- Exercício, mãe. Tô exercitando os braços... O doutor não mandou?
Pior de tudo, foi que o meu pai reparou qu’eu tava meio
cinzento -falou assim- com os olhos fundos e teria que voltar ao médico –o mesmo,
pôxa! Sozinho, pois já era um rapazinho. Tá bom, lá fui
eu. Você sabe que o filho da mãe do
doutor, com aquele troço pendurado nos
ouvidos e que na outra ponta tem uma chapinha de aço, sabe? Encostou no peito,
escutou, escutou e reclamou que estava com um barulho estranho. Claro, eram
minhas bolas de gude e o pôster de minha namorada, dobrado, no bolso da camisa.
Poxa...
E aí...? E aí?
Adivinha. Quando ele viu o pôster endoidou, meu camarada. Tomou na mão grande,
disse que iria falar com o meu pai, essas coisas. Me sacaneou. Uma tremenda
covardia, pô! Também...,era um cara
alto, moreno, olho azul, sei não... O
que você acha?
Poxa...
Nunca mais vi a Marilynha... Acho que ela me traiu... O que
você acha...? Tá bom, não precisa responder...
JPC-2010
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