domingo, 23 de junho de 2013








À MARGEM DO RIO EUFRATES  -  CRÔNICAS




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BAGDÁ: TRÂNSITO E CALOR


A buzina do carro não é apenas um importante acessório. Em Bagdá, e no resto do país, é peça fundamental da estrutura do veículo.  Pode-se, com boa dose de imaginação, achar que ela seja interligada  ao câmbio ou aos pedais, tal a intensidade do buzinaço  nas ruas. Os motoristas buzinam sem cessar e sem motivo imediato, tão somente excesso de precaução. Buzinando intermitentemente lá vão eles enfiando os  carros  no emaranhado do trânsito, num "Alá-nos-acuda" insuportável.

E o pedestre?  Este, de certo modo é privilegiado. Nos casos de atropelamento o motorista, culpado ou não, será agraciado com uma série de pescoções distribuídos pelos  transeuntes. Dependendo do estado de  gravidade do acidentado  o motorista poderá ser preso e sua liberdade condicionada ao tempo de recuperação da vítima. E se a vítima falecer?  Bem, aí o motorista fica nas mãos da família que pode fazer algumas exigências, inclusive, em termos de Dinares, a moeda local.

À margem do pandemônio dos automóveis sigo pelas calçadas da Avenida Harum Al Hashid,  personagem de “As mil e uma noites”, olhando vitrines e as raríssimas mulheres com roupas ocidentais. A grande maioria usa por sobre os vestidos comuns, a abaia  até os pés. Um lenço, também negro, cobre a cabeça escondendo nariz e boca. (posteriormente, no Leste do país, quase fronteira com a Síria, e também ao Norte próximo ao Irã é que testemunhamos o uso da burka).

Visitamos a praça Ali Baba;  nenhum bar à vista. Aqui e ali meninos vendendo copos d’água com pedras de gelo, de modo bastante primitivo: na calçada, um balde com água e uma barra de gelo sendo quebrada aos poucos, de acordo com os pedidos. Higiene, zero. Até aquele momento, os mais de cinqüenta graus (!) dessa tarde não me motivaram a beber daquela água. (Meu reino por uma cerveja !)

O que nós não sabíamos é quão difícil seria encontrar bebida alcoólica em bar. Aliás, bar no estilo ocidental, nem pensar. Só casas de chai (chá), onde também era comum vermos senhores –quase sempre idosos- conversando e fumando  narguilé.  Com o tempo, descobriríamos ser possível tomar um drinque em bares de hotéis- internacionais- e em um ou outro restaurante de luxo.

Afinal, ao entardecer, fomos rendidos pela insistência do menino de olhos pretíssimos e desembolsamos 25 Fils enquanto ele anunciava aos gritos: Maia bárid... Maia bárid ...!!

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Narguilé – Peça metálica, tipo jarro, de 0,50m ou 0,60m de altura, com  água, usada  para  fumar.
Abaia – Roupa negra que vai até os pés.
Burka – Idem, porém cobrindo totalmente a cabeça.
Fils - Centavos do Dinar, a moeda local.
Maia bárid - Água gelada.



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