À MARGEM DO RIO EUFRATES - CRÔNICAS
-02-
BAGDÁ: TRÂNSITO E
CALOR
A buzina do carro não é apenas um
importante acessório. Em Bagdá, e no resto do país, é peça fundamental da estrutura
do veículo. Pode-se, com boa dose de
imaginação, achar que ela seja interligada ao câmbio ou aos pedais, tal a intensidade do buzinaço
nas ruas. Os motoristas buzinam sem
cessar e sem motivo imediato, tão somente excesso de precaução. Buzinando intermitentemente
lá vão eles enfiando os carros no emaranhado do trânsito, num "Alá-nos-acuda" insuportável.
E o pedestre? Este, de certo modo é privilegiado. Nos casos
de atropelamento o motorista, culpado ou não, será agraciado com uma série de
pescoções distribuídos pelos transeuntes. Dependendo do estado de gravidade do acidentado o motorista poderá ser preso e sua liberdade
condicionada ao tempo de recuperação da vítima. E se a vítima falecer? Bem, aí o motorista fica nas mãos da família
que pode fazer algumas exigências, inclusive, em termos de Dinares, a moeda local.
À margem do pandemônio dos automóveis
sigo pelas calçadas da Avenida Harum Al Hashid, personagem de “As mil e uma noites”, olhando
vitrines e as raríssimas mulheres com roupas ocidentais. A grande maioria usa
por sobre os vestidos comuns, a abaia
até os pés. Um lenço, também negro, cobre
a cabeça escondendo nariz e boca. (posteriormente, no Leste do país, quase
fronteira com a Síria, e também ao Norte próximo ao Irã é que testemunhamos o
uso da burka).
Visitamos a praça Ali Baba; nenhum bar à vista. Aqui e ali meninos
vendendo copos d’água com pedras de gelo, de modo bastante primitivo: na
calçada, um balde com água e uma barra de gelo sendo quebrada aos poucos, de
acordo com os pedidos. Higiene, zero. Até aquele momento, os mais de cinqüenta
graus (!) dessa tarde não me motivaram a beber daquela água. (Meu reino por uma
cerveja !)
O que nós não sabíamos é quão
difícil seria encontrar bebida alcoólica em bar. Aliás , bar no
estilo ocidental, nem pensar. Só casas de chai
(chá), onde também era comum vermos senhores –quase sempre idosos-
conversando e fumando narguilé. Com o tempo, descobriríamos ser possível
tomar um drinque em bares de hotéis- internacionais- e em um ou outro
restaurante de luxo.
Afinal, ao entardecer, fomos
rendidos pela insistência do menino de olhos pretíssimos e desembolsamos 25 Fils enquanto ele anunciava aos gritos:
Maia bárid... Maia bárid ...!!
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Narguilé – Peça metálica, tipo jarro, de 0,50m ou 0,60m de altura, com água, usada para fumar.
Abaia – Roupa negra que vai até os pés.
Burka – Idem, porém cobrindo totalmente a cabeça.
Fils - Centavos do Dinar, a moeda local.
Maia bárid - Água gelada.
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