DO MORRO DA GUIA...
31 – RICARDO E MARLENE
A história de vida desses dois amigos é extraordinária e
merece um capítulo à parte. Começou em 1967, durante outra viagem que eu e o
Lauro fizéramos pelo Uruguai e Argentina.
Certa noite, chegando à rodoviária de Porto Alegre, avistamos a um canto
uma mochila diferenciada, tipo importada. Aguardamos por perto a fim de
conhecer o dono daquela preciosidade. Chegou o Ricardo e deu-se início a um
bate papo típico de mochileiros: melhores estradas, dicas de carona e por aí...
Pintou uma empatia, e continuamos viagem
durante alguns dias, inclusive, juntos em nossa barraca ao acampar
próximo ao aeroporto internacional de Carrasco, nos arredores de Montevidéo.
Durante sua permanência em nossa companhia, cresceu uma
amizade saudável, a ponto de nosso amigo nos contar a verdadeira razão de sua
viagem. Na realidade, ele não passeava pela América do Sul como havia dito
inicialmente e sim, acreditem, queria chegar a
Israel (!!) ao encontro de sua namorada Marlene. Ele descendia de alemães e os pais dela, judeus puros, faziam de tudo para impedir sua
união; haviam chegado ao absurdo de enviá-la para Israel onde trabalhava em
Kibutz, numa daquelas fazendas comunitárias. Só não contavam com a determinação
do Ricardo. Em nossa despedida em Montevidéo passou o endereço da namorada nos incumbindo
de manter contato avisando-a que ele estava a caminho. E foi o que fizemos ao
retornar a nossa casa. Ele chegou ao Peru, trabalhou um tempo em Lima, juntou
dinheiro, conheceu gente importante, fez amizades e chegou à Itália. Dali,
conseguiu trabalho em um navio cargueiro e alcançou Israel. Chegou numa hora
crítica: em plena “guerra dos seis dias”.
Com cartas de apresentação de amigos judeus, driblando
dificuldades com as autoridades locais, o Ricardo por fim conseguiu não só
entrar no país, como também localizar o Kibutz onde Marlene vivia. Casaram-se lá.
Durante o longo percurso que empreendeu, nós, por carta,
mantínhamos a Marlene informada a respeito de sua viagem. Dessa forma criamos
forte amizade com ela, à distância, sem nos conhecermos. Anos depois, quando
retornaram ao Brasil em definitivo, fomos recepcioná-los no Galeão e os
trouxemos para Cabo Frio. Por tudo isso, a cada vez que nos encontramos era só
alegria. Motivos para comemorações não faltavam.
Continua...
Continua...
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