sexta-feira, 14 de junho de 2013


DO MORRO DA GUIA...

31 – RICARDO E MARLENE

A história de vida desses dois amigos é extraordinária e merece um capítulo à parte. Começou em 1967, durante outra viagem que eu e o Lauro fizéramos pelo Uruguai e Argentina.  Certa noite, chegando à rodoviária de Porto Alegre, avistamos a um canto uma mochila diferenciada, tipo importada. Aguardamos por perto a fim de conhecer o dono daquela preciosidade. Chegou o Ricardo e deu-se início a um bate papo típico de mochileiros: melhores estradas, dicas de carona e por aí... Pintou uma empatia, e continuamos viagem  durante alguns dias, inclusive, juntos em nossa barraca ao acampar próximo ao aeroporto internacional de Carrasco, nos arredores de Montevidéo.

Durante sua permanência em nossa companhia, cresceu uma amizade saudável, a ponto de nosso amigo nos contar a verdadeira razão de sua viagem. Na realidade, ele não passeava pela América do Sul como havia dito inicialmente e sim, acreditem, queria chegar a  Israel (!!) ao encontro de sua namorada Marlene.  Ele descendia de alemães e os pais dela,  judeus puros, faziam de tudo para impedir sua união; haviam chegado ao absurdo de enviá-la para Israel onde trabalhava em Kibutz, numa daquelas fazendas comunitárias. Só não contavam com a determinação do Ricardo. Em nossa despedida em Montevidéo  passou o endereço da namorada nos incumbindo de manter contato avisando-a que ele estava a caminho. E foi o que fizemos ao retornar a nossa casa. Ele chegou ao Peru, trabalhou um tempo em Lima, juntou dinheiro, conheceu gente importante, fez amizades e chegou à Itália. Dali, conseguiu trabalho em um navio cargueiro e alcançou Israel. Chegou numa hora crítica: em plena  “guerra  dos seis dias”.

Com cartas de apresentação de amigos judeus, driblando dificuldades com as autoridades locais, o Ricardo por fim conseguiu não só entrar no país, como também localizar o Kibutz onde Marlene vivia. Casaram-se lá.

Durante o longo percurso que empreendeu, nós, por carta, mantínhamos a Marlene informada a respeito de sua viagem. Dessa forma criamos forte amizade com ela, à distância, sem nos conhecermos. Anos depois, quando retornaram ao Brasil em definitivo, fomos recepcioná-los no Galeão e os trouxemos para Cabo Frio. Por tudo isso, a cada vez que nos encontramos era só alegria. Motivos para comemorações não faltavam.

                                                                  Continua...

                                                                                                                                                                                                                                          

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