terça-feira, 4 de junho de 2013

DO MORRO DA GUIA...

20 - LAS CUEVAS,  DIVISA COM O CHILE

16/10 – Mais ou menos 06 h da manhã chegávamos em Polvoredas. O maquinista, previamente alertado, reduziu a velocidade  a dois quilômetros da estação e nós pulamos do trem. Caminhamos até a estação e justo naquele instante estava saindo outro trem de carga; conversamos  com o funcionário e, às pressas,  alcançamos o último vagão com o trem já em movimento. Mal nos acomodamos veio um guarda ferroviário  falando apressadamente em castelhano. Deu para entender que estava nos pondo para fora. Saltamos do vagão maldizendo toda a sua árvore genealógica.

Fazia um frio medonho. Devia estar próximo de Zero grau; mochilas à beira da estrada estávamos priorizando a vinda do sol em vez de  carona. Batemos insistentemente na  porta de um bar cujo dono, penalizado e olhos arregalados, abriu a porta pela metade. Serviu-nos leite quente de cabra e nos aconselhou enrolar jornais nos pés. Usávamos todas as roupas duplicadas e mesmo assim tremíamos até os cabelos. Refizemos as forças e empreendemos a lenta subida ao sopé da Cordilheira. Mais à frente um luxuoso carro nos acolheu e fomos até Villa de las Cuevas, última cidade argentina, fronteira com o Chile. Fomos apresentados à neve.  Na despedida o motorista inda nos presenteou  laranjas e maçãs.

Las Cuevas estava toda branca e  suas casas em estilo nórdico acumulavam nos tetos grossa camada de neve. Nessa pequena cidade nasce o túnel internacional  por onde alcançaríamos o país vizinho. Até aquele ponto, a estrada margeando os Andes nos mostrava cenários lindíssimos. Nas ladeiras das montanhas se estendiam longas e íngremes pistas de esqui.  Víamos adiante o chamado colosso da América, o Monte Aconcágua com seus 7.021 m de altitude; um pouco mais perto, o Pico Tolosa com 5.200 m.   Nós estávamos a 3.800 m de altitude e numa temperatura variando de 8 a 12 graus, negativos.

Resolvidos os assuntos de Aduana e da Gendarmeria, tomamos o rumo do extenso túnel que separa os dois países. Durante a caminhada começou a nevar o que foi para nós, virgens de neve, uma grande farra. Com receio de que não víssemos nevar novamente,  gastamos as últimas fotos. Adiante, com a nevasca aumentando de intensidade, batemos à porta de um refúgio militar, no qual fomos muito bem recepcionados pelos policiais. O oficial responsável ordenou que preparassem café com conhaque que veio acompanhado com pão e queijo. Descansamos uma meia hora e fomos em frente. 

Como nos haviam informado os policiais, era muitíssimo arriscado passar pelo túnel a pé, e sem portar uma lanterna. Comprovamos que o ambiente era por demais escuro. A uns cem metros da entrada  contemplamos mais uma vez a paisagem que apenas conhecíamos através cartões postais e  cinema.
                                                                                   Continua...


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