DO MORRO DA GUIA...
20 - LAS CUEVAS,
DIVISA COM O CHILE
16/10 – Mais ou menos 06 h da manhã chegávamos em Polvoredas.
O maquinista, previamente alertado, reduziu a velocidade a dois quilômetros da estação e nós pulamos
do trem. Caminhamos até a estação e justo naquele instante estava saindo outro
trem de carga; conversamos com o
funcionário e, às pressas, alcançamos o
último vagão com o trem já em movimento. Mal nos acomodamos veio um guarda
ferroviário falando apressadamente em
castelhano. Deu para entender que estava nos pondo para fora. Saltamos do vagão
maldizendo toda a sua árvore genealógica.
Fazia um frio medonho. Devia estar próximo de Zero grau;
mochilas à beira da estrada estávamos priorizando a vinda do sol em vez de carona. Batemos insistentemente na porta de um bar cujo dono, penalizado e olhos
arregalados, abriu a porta pela metade. Serviu-nos leite quente de cabra e nos
aconselhou enrolar jornais nos pés. Usávamos todas as roupas duplicadas e mesmo
assim tremíamos até os cabelos. Refizemos as forças e empreendemos a lenta
subida ao sopé da Cordilheira. Mais à frente um luxuoso carro nos acolheu e
fomos até Villa de las Cuevas, última cidade argentina, fronteira com o Chile.
Fomos apresentados à neve. Na despedida
o motorista inda nos presenteou laranjas
e maçãs.
Las Cuevas estava toda branca e suas casas em estilo nórdico acumulavam nos
tetos grossa camada de neve. Nessa pequena cidade nasce o túnel
internacional por onde alcançaríamos o
país vizinho. Até aquele ponto, a estrada margeando os Andes nos mostrava
cenários lindíssimos. Nas ladeiras das montanhas se estendiam longas e íngremes
pistas de esqui. Víamos adiante o
chamado colosso da América, o Monte Aconcágua com seus 7.021 m de altitude; um
pouco mais perto, o Pico Tolosa com 5.200 m.
Nós estávamos a 3.800 m de altitude e numa temperatura variando de 8 a
12 graus, negativos.
Resolvidos os assuntos de Aduana e da Gendarmeria, tomamos o
rumo do extenso túnel que separa os dois países. Durante a caminhada começou a
nevar o que foi para nós, virgens de neve, uma grande farra. Com receio de que
não víssemos nevar novamente, gastamos
as últimas fotos. Adiante, com a nevasca aumentando de intensidade, batemos à
porta de um refúgio militar, no qual fomos muito bem recepcionados pelos
policiais. O oficial responsável ordenou que preparassem café com conhaque que
veio acompanhado com pão e queijo. Descansamos uma meia hora e fomos em frente.
Como nos haviam informado os policiais, era muitíssimo arriscado passar pelo
túnel a pé, e sem portar uma lanterna. Comprovamos que o ambiente era por
demais escuro. A uns cem metros da entrada
contemplamos mais uma vez a paisagem que apenas conhecíamos através
cartões postais e cinema.
Continua...
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