terça-feira, 25 de junho de 2013


À MARGEM DO RIO EUFRATES  -  CRÔNICAS


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KM 215 – ACAMPAMENTO CENTRAL


Inicialmente a obra teve três grandes acampamentos: Km 30 (a trinta km de Bagdá). Km 215 (Acampamento Central) e o Km 350 (ponto mais avançado na ocasião). O Km 215 era o principal: localizado de modo privilegiado, numa linda curva à margem direita do Rio Eufrates  (Foto)  contava com excelente estrutura: Residências, Escritórios de Administração, Supermercado, Hospital, Clubes (2), Hotel, Central de TV (circuito interno), Corpo de Bombeiros, Colégio,  Estação de Tratamento de Água e outros.

As residências eram formadas por contêineresimportados de Houston, Texas- acoplados  e podiam ter 1, 2 ou 3 dormitórios, de acordo com a família do funcionário.   Eram dotadas de todo o mobiliário: do aparelho de ar-condicionado ao abridor de garrafas, e distribuídas somente aos casados. Os solteiros ficavam em alojamentos  também providos de regular conforto ou dependendo do cargo e/ou graduação ficavam hospedados no hotel do Acampamento.

O Supermercado era razoavelmente bem abastecido podendo-se  encontrar desde feijão preto até aguardente; também vinhos franceses e carne da Austrália; verduras e legumes,  alguns da própria horta cultivada à beira do  rio. As compras eram pagas através carnês –tíquetes- havendo limites de acordo com o cargo do funcionário.

Do salário, recebíamos cerca de 25%; o restante vinha para o Brasil e creditados em  contas-correntes bancárias. Esses 25% eram suficientes para a alimentação, pequenas compras no comércio local e algum gasto extra.

Referente à  área de saúde havia um hospital, com dois médicos, e enfermagem; exames clínicos, laboratoriais, RX, exames odontológicos e  até internações. Somente  casos graves ou cirúrgicos eram enviados à capital ou, em situações extremas, enviados ao Brasil. Nas frentes de serviços  -pontos avançados acompanhando a obra-  haviam Postos Médicos.

Quanto à educação, a cargo do  Colégio Pitágoras, de BH,  só elogios; com excelentes professores oriundos de Minas Gerais foi considerado  o ponto forte do Acampamento Central, tornando-se referência e centro das atividades da criançada. Funcionava em tempo integral, participando das diversas campanhas promovidas, como prevenção de acidentes no trabalho, em incêndio e no trânsito.

Para exemplificar o grau de excelência:  Se fosse preciso punir,  disciplinarmente, algum filho o castigo era “não ir a escola no dia seguinte...”

Para o  lazer tínhamos dois clubes com piscinas, quadras poli-esportivas, campo de futebol, cinema, etc., com frequentes atividades esportivas, torneios de  natação e outros. As festas de Natal e  Ano Novo eram comemoradas naturalmente e até no Carnaval os Clubes promoviam bailes e alguns blocos  ousavam desfilar pelo interior da vila, sem nenhuma restrição ou qualquer tipo de censura. O Acampamento Central era o nosso Brasil.

                                Vista parcial do Acampamento Central
                        BLOCO DE CARNAVAL NO ACAMPAMENTO
                   (O de camisa do Flamengo -tocando bumbo- sou eu).
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                     PROGRAMA NA TV, SOBRE SEGURANÇA DO
                  TRABALHO                              


Tínhamos também uma Central de TV, com Circuito Interno, programação própria com noticiário sobre a obra, eventos, notícias do Brasil, e até novelas da GLOBO, além de filmes e principais programas vindos do Brasil, como Copa do Mundo, Campeonatos de Futebol e Carnaval. Às sextas-feiras (domingos) um Padre, residente em Bagdá, vinha ao Acampamento rezar  missa,  assim como um Pastor Evangélico –contratado pela empresa- comparecia para realizar suas pregações.

Também às sextas-feiras tive a grata experiência de apresentar um programa de TV, cujo tema era Prevenção de Acidentes,  onde mostrava as diversas frentes de trabalho e suas peculiaridades relativas à Segurança do Trabalho.

Funcionários de nível superior ou com cargos diferenciados usavam  carros da empresa,  na maioria FIATs brasileiros e era possível, nas folgas, viajar pelo país sem nenhum problema: os brasileiros eram muito queridos e  além do mais a gasolina era baratíssima, quase de graça.

Muitos de nós, durante períodos de  férias e no retorno definitivo,  viajamos a países europeus e do Oriente Médio. A oportunidade de conhecermos outros países foi o  motivo  determinante  na  decisão de irmos trabalhar no Iraque.

                                 
                                                                         Continua...



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