DO MORRO DA GUIA...
14 - BUENOS AYRES, SAMBA e DELEGACIA
De volta ao bairro de Longchamps,
após o almoço, sentamo-nos no tapete da sala e principiamos com umas músicas
tranquilas, Dolores Duran, Caymi, só pra relaxar e a coisa foi esquentando,
esquentando e acabou em carnaval, com
bloco, estandarte e tudo. A turma se animou e resolveu ir para o centro da
cidade. Numa das conexões do metrô, o
Lauro se desencontrou da turma. Não nos preocupamos; ele conhecia o ponto de encontro, no centro de
Buenos Ayres. Em frente ao bar combinado aguardávamos a sua chegada quando
aconteceu uma experiência nova para nós. A polícia foi chegando e calmamente pediu
os documentos. Carlão e eu entregamos
nossos passaportes e as meninas suas identidades. “Sigam-me...”
Ouvimos do policial, enquanto um camburão encostava. As meninas
entraram e nós –Carlos e eu- perseguindo
a pé e tentando dialogar com os guardas. Sem sucesso. Na delegacia fomos revistados com rigor. No
embornal escancarado o guarda encontrou duas peças insólitas e desconhecidas: o
tamborim e o pandeiro. Alegamos estar sob proteção do consulado e além do mais
éramos periodistas e queríamos falar
com o chefe do destacamento. Mais uma vez a Carteira do Folha dos Lagos
funcionaria. “Ested es periodista...?
perguntou o sargento. Respondi
afirmativamente. Daí nos levaram ao Comandante e o tratamento mudou,
totalmente. Mostramos-lhe a o recorte do jornal paraguaio, com a foto, a
conversa fluiu e até nos serviram café. Mais de quatro horas de sufoco. Na
saída, 01:00h da manhã, topamos com o Lauro que viera nos “salvar”.
Plena Buenos Ayres,
madrugada gelada e sem um “peso” no bolso . Para piorar começava uma chuvinha
fina. Nesse momento, lembrei-me da carta de um amigo de Cabo Frio, Aymberê
Torres Dias –Bira- endereçada ao seu amigo portenho, o artista plástico Oswaldo
Rasguido e que, coincidência, conhecia o meu pai. A sorte dava uma guinada.
Localizamos o endereço, que não era longe, e depois de exposta a situação fomos
bem acolhidos. Pela manhã, após o café pegamos o rumo de volta à Longchamps.
O assunto da manhã girou em torno de polícia. Geralmente ao chegar às cidades procuramos Quartéis
Militares, Corpos de Bombeiros ou Delegacias, e fomos sempre bem recebidos.
Desta vez, no entanto, ela nos
procurou e deu no que deu. A inconstância nos seguia: um dia nos alimentando
bem, no outro nem tanto e naquele outro mendigando um copo de leite. Num dia,
aclamados como artistas de TV e no outro, suspeitos nem sei de quê. Afinal era isso que
buscávamos: aventura. Ao sair à rua,
fomos reconhecidos e algumas pessoas se aproximavam para ver de perto “los
muchachos brasileños” da TV. Com isso fizemos a grande descoberta, uma nova
fonte de recursos: CANTAR EM TROCA DE POUSO E COMIDA. Nos preparamos para no dia seguinte, bem
cedo, deixar Buenos Ayres, uma linda e
“hermosa” cidade.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário