domingo, 2 de junho de 2013

DO MORRO DA GUIA...

14 - BUENOS AYRES, SAMBA e DELEGACIA

De volta ao bairro de Longchamps, após o almoço, sentamo-nos no tapete da sala e principiamos com umas músicas tranquilas, Dolores Duran, Caymi, só pra relaxar e a coisa foi esquentando, esquentando  e acabou em carnaval, com bloco, estandarte e tudo. A turma se animou e resolveu ir para o centro da cidade. Numa das  conexões do metrô, o Lauro se desencontrou da turma. Não nos preocupamos;  ele conhecia o ponto de encontro, no centro de Buenos Ayres. Em frente ao bar combinado aguardávamos a sua chegada quando aconteceu uma experiência nova para nós.  A polícia foi chegando e calmamente pediu os  documentos. Carlão e eu entregamos nossos passaportes e as meninas suas identidades.  “Sigam-me...”  Ouvimos do policial, enquanto um camburão encostava. As meninas entraram  e nós –Carlos e eu- perseguindo a pé e tentando dialogar com os guardas. Sem sucesso.  Na delegacia fomos revistados com rigor. No embornal escancarado o guarda encontrou duas peças insólitas e desconhecidas: o tamborim e o pandeiro. Alegamos estar sob proteção do consulado e além do mais éramos periodistas e queríamos falar com o chefe do destacamento. Mais uma vez a Carteira do Folha dos Lagos funcionaria.  “Ested es periodista...? perguntou o sargento. Respondi  afirmativamente. Daí nos levaram ao Comandante e o tratamento mudou, totalmente. Mostramos-lhe a o recorte do jornal paraguaio, com a foto, a conversa fluiu e até nos serviram café. Mais de quatro horas de sufoco. Na saída, 01:00h da manhã, topamos com o Lauro que viera nos “salvar”.
Plena  Buenos Ayres, madrugada gelada e sem um “peso” no bolso . Para piorar começava uma chuvinha fina. Nesse momento, lembrei-me da carta de um amigo de Cabo Frio, Aymberê Torres Dias –Bira- endereçada ao seu amigo portenho, o artista plástico Oswaldo Rasguido e que, coincidência, conhecia o meu pai. A sorte dava uma guinada. Localizamos o endereço, que não era longe, e depois de exposta a situação fomos bem acolhidos. Pela manhã, após o café pegamos o rumo de volta à Longchamps.  
O assunto da manhã girou em torno de polícia. Geralmente ao chegar às cidades procuramos Quartéis Militares, Corpos de Bombeiros ou Delegacias, e fomos sempre bem recebidos. Desta vez, no entanto, ela nos procurou e deu no que deu. A inconstância nos seguia: um dia nos alimentando bem, no outro nem tanto e naquele outro mendigando um copo de leite. Num dia, aclamados como artistas de TV e no outro,  suspeitos nem sei de quê. Afinal era isso que buscávamos: aventura.  Ao sair à rua, fomos reconhecidos e algumas pessoas se aproximavam para ver de perto “los muchachos brasileños” da TV. Com isso fizemos a grande descoberta, uma nova fonte de recursos: CANTAR EM TROCA DE POUSO E COMIDA.  Nos preparamos para no dia seguinte, bem cedo,  deixar Buenos Ayres, uma linda e “hermosa” cidade.

                                                                                                                      Continua...

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