domingo, 2 de junho de 2013

CONTO --

Morrer um pouco


Tanta gente passando por aqui na esquina, não sei para qual lugar, vai gente pra lá e pra cá vai volta, serão as mesmas pessoas? Parece que este barbudo agorinha mesmo passou aqui em frente... essa coceira na perna esta  incomodando demais, minha unha esta grande à beça, nossa, minha mãe cortava minhas  unhas toda semana, acho faz muito tempo isso. Moço, ei moço, dá um... porra, tem cada sujeito besta nem olhou. Menina bonita aquela lourinha com a mochila... me lembrei agora de minha irmã, dá um trocado aí...deixa pra lá, não quer não dá, funique-se, acho que vou dormir um pouco, puxa, a pinga tá quase no fim. Por que todos me olham assim estranho, parece que teem nojo... à puta que  pariu todo mundo, não preciso de ninguém. Ei, um trocadinho aí pelo amor de ... que dormência essa no rosto, será que está inchado, uma zonzeira, vou dormir mais... Chiquita bacana, lá da Martinica, se veste com... êta musiquinha bonita, me lembra Carla Miranda, igualzinha à Chiquita bacana, que sede, vontade de mijar também, vai ser aqui mesmo, não dá tempo, coisa boa é mijar... Cadê minha cachaça, só tem esse pouquinho e cheia de formiguinha lá dentro... tudo boiando, será que elas gostam,  aquele negão que dormiu aqui ontem bebeu minha pinga escondido.
Sem vergonha aquele cabra safado, veio se encostando em mim dizendo que estava com frio essa não, isso nunca fiz e nem faço, por que ele me bateu? covarde, isso sim, Deus castiga, ele queria abusar de mim, eu não faço mal a ninguém, se eu não tivesse a gilete, viu? foi se meter à besta, cortei a cara dele... Uma esmola, pelo amor de... Brigado... essa moça é gente boa, dez, quinze, vinte, tá meio pouco... mas logo agora esta chuva para atrapalhar, chovendo os bacanas ficam mais apressados, tudo nervoso e não dão nada pra gente. Acho que vou levantar um pouco e comprar outra garrafa, aproveito e peço um pão, ou procuro uma sobra naquela lata de lixo, mas   esse cobertor tá tão quentinho, depois eu vou, que sujeito esquisito com essa calça amarela, ou é laranja?
Estou sentindo uma coceira na mão, dizem que é sorte, dinheiro, por que esses carros buzinando tanto, minha cabeça dói, olha quem vem ali, aqueles moleques que outro dia roubaram a minha coberta nova, ficou só esse caco. Aquela mulher gorda ficou de me dar um cobertor bem grosso mas não trouxe, que dia é hoje, pra que saber, não sei, nem quero saber... se eles passarem perto vou ver se pego aquele menorzinho. Ah!, não estou aguentando levantar, acho que vou desmaiar, vou... tão bom desmaiar, morreu um pouco...
JPC

Nenhum comentário:

Postar um comentário