DO MORRO DA GUIA...
21 - TEMPESTADES DE NEVE
Pensávamos numa solução para encarar a travessia;
confabulávamos, quando de repente inicia outra tempestade de neve. Foi uma algazarra;
tal crianças brincamos, corremos e jogamos neve uns nos outros. As mãos, sem
luvas, quase congelando durante os 15 minutos de criancice. Tínhamos as
japonas, gorros e até as barbas cobertas de neve, quando ouvimos ao longe um
apito para nós familiar. O trem. “Será que ele para, se pedirmos carona...?”.
Pegamos rapidamente as mochilas e nos postamos junto aos trilhos, sob a
tempestade. Pedimos com tamanha
convicção que o trem parou. Incrível! Parou mais a frente aguardando a nossa
chegada. (Certamente o maquinista teve dó ...).
Deve ter sido a primeira vez que um trem parou
para dar carona a mochileiros. Corremos
e subimos nos degraus do último vagão e
ali permanecemos agarrados, os três. Durante a travessia é que vimos o imenso
risco que iríamos correr. Total escuridão e o trem passando muito rente às
laterais do túnel. Afinal, conseguimos chegar na cidade de Caracoles.
Apertamo-nos as mãos e nos parabenizamos: chegáramos ao Chile!
Dirigímo-nos à Aduana chilena e lá ficamos sabendo da
impossibilidade de seguir até a capital, Santiago. As estradas de ferro e
rodovias estavam bloqueadas pela neve. O frio era insuportável e por causa
disso conhecemos poucas vilas fronteiriças e resolvemos retornar. Pegamos
carona de volta em outro trem e chegamos em Las Cuevas. Não ficamos deprimidos
por não ter conhecido Santiago, afinal a proposta era chegar ao Chile e apesar
das dificuldades, os momentos de alegria superaram a tudo. E com larga
vantagem.
Em Las Cuevas nevava demais; procuramos novamente a Gendarmeria que nos indicou a
Delegacia; lá, o oficial responsável –Ten.
Mário- nos convidou a entrar e enquanto explicávamos a situação, preparou um
café. Lanchamos e “charlamos” muito. O tenente gostava de artes,
literatura e tudo mais que, erroneamente, julgávamos incompatível com
quartéis e delegacias. Resultado: permanecemos ali cerca de uma semana.
No outro dia,
levantamos pouco antes das 09 horas e ao chegar à janela pensei estar ainda
dormindo: uma paisagem jamais vista. Durante a noite nevara direto: as calçadas
e ruas se igualaram e eram uma só camada branca com cerca de meio metro de
espessura. Os telhados, bem inclinados, lotados de neve. Tudo era neve. Tudo
era branco. Depois do chimarrão, veio o convite do tenente Mário para o
almoço.
Continua...
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