quarta-feira, 5 de junho de 2013

DO MORRO DA GUIA...

21 - TEMPESTADES DE NEVE

Pensávamos numa solução para encarar a travessia; confabulávamos, quando de repente inicia outra tempestade de neve. Foi uma algazarra; tal crianças brincamos, corremos e jogamos neve uns nos outros. As mãos, sem luvas, quase congelando durante os 15 minutos de criancice. Tínhamos as japonas, gorros e até as barbas cobertas de neve, quando ouvimos ao longe um apito para nós familiar. O trem. “Será que ele para, se pedirmos carona...?”. Pegamos rapidamente as mochilas e nos postamos junto aos trilhos, sob a tempestade.  Pedimos com tamanha convicção que o trem parou. Incrível! Parou mais a frente aguardando a nossa chegada. (Certamente o maquinista teve dó ...).  
Deve ter sido a primeira vez que um trem parou para  dar carona a mochileiros. Corremos e subimos nos degraus do último vagão  e ali permanecemos agarrados, os três. Durante a travessia é que vimos o imenso risco que iríamos correr. Total escuridão e o trem passando muito rente às laterais do túnel. Afinal, conseguimos chegar na cidade de Caracoles. Apertamo-nos as mãos e nos parabenizamos: chegáramos ao Chile! 

Dirigímo-nos à Aduana chilena e lá ficamos sabendo da impossibilidade de seguir até a capital, Santiago. As estradas de ferro e rodovias estavam bloqueadas pela neve. O frio era insuportável e por causa disso conhecemos poucas vilas fronteiriças e resolvemos retornar. Pegamos carona de volta em outro trem e chegamos em Las Cuevas. Não ficamos deprimidos por não ter conhecido Santiago, afinal a proposta era chegar ao Chile e apesar das dificuldades, os momentos de alegria superaram a tudo. E com larga vantagem.

Em Las Cuevas nevava demais; procuramos  novamente a Gendarmeria que nos indicou a Delegacia;  lá, o oficial responsável –Ten. Mário- nos convidou a entrar e enquanto explicávamos a situação, preparou um café. Lanchamos e “charlamos” muito. O tenente gostava de  artes,  literatura e tudo mais que, erroneamente, julgávamos incompatível com quartéis e delegacias. Resultado: permanecemos ali cerca de uma semana.

No outro dia, levantamos pouco antes das 09 horas e ao chegar à  janela pensei estar ainda dormindo: uma paisagem jamais vista. Durante a noite nevara direto: as calçadas e ruas se igualaram e eram uma só camada branca com cerca de meio metro de espessura. Os telhados, bem inclinados, lotados de neve. Tudo era neve. Tudo era branco.  Depois do chimarrão, veio  o convite do tenente Mário para o almoço.
                                                                                                                                                                Continua...



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