DO MORRO DA GUIA...
24 - NO CAMINHO DE CÓRDOBA
Ruta 8. Logo no princípio da rodovia,
fim da zona urbana da cidade, dois rapazes numa camionete nos deram carona. O
único fato interessante neste percurso foi que um guarda rodoviário correu em
nossa direção para... pedir-me um autógrafo e ficou decepcionado; confundira-me
com Kafrune, cantor argentino que, como eu, usava barba. Esse cantor também
fazia, nessa época, um giro pelo país.
Descemos da camionete às portas da
cidade de Rio Quarto, zona rural, enfrentando uma poeira terrível. Estávamos
famintos e por este justo motivo Carlão e eu pulamos uma cancela e caminhamos
entre bois e vacas. Iríamos pedir, ou comprar, leite numa pequena casa de um sítio. E mais um vez tivemos prova da boa acolhida
com que o povo humilde nos recebia. Aos chegarmos à casa logo recebemos nas
mãos uma cuia de chimarrão. Conversa vai, conversa vem, nos convidaram a
adentrar a casa e de repente nos vimos inseridos num animado bate papo. O
mesmo tipo de conversa brasileira: reclamações do custo de vida, da política,
da inflação. Havia um senhorzinho simpático, olhos miúdos e azuis; falava
devagar, sem tirar a ponta do cigarro do canto da boca e quando eu queria
opinar algo ele simplesmente me ignorava e prosseguia na dele. (Para que ouvir a minha opinião... um recém nascido...?)
Na saída, ganhamos um cantil com leite e
um queijo caseiro. Sentados à beira do asfalto fizemos o nosso lanche. Mais uma carona e muita poeira chegamos ao
centro da cidade, onde concluímos que a solução seria pegar um trem até
Córdoba. Como ainda tínhamos um pouco de grana, compramos as passagens.
Enquanto comíamos o queijo caseiro, assistíamos à grande baderna que um grupo
de rapazes aprontava. Haviam sido convocados para servir ao exército.
22/10, onze horas da noite. Chegamos
à Córdoba e nosso caixa apresentava um saldo ridículo: uma moeda de 5 pesos, ou
seja, nada! Pernoitamos no Esquadrão de Cavalaria e pela manhã tomamos o café da
manhã juntos com a soldadesca. Em seguida, saímos a procura de nosso amigo Estevan
Vallor, conhecido em Cabo Frio e que havia, com a família, se hospedado em
minha casa. Muito embora a sua idosa mãe não nos conhecesse, a recepção foi
agradável. O nosso amigo chegou logo depois com milhares de indagações sobre o
Brasil e particularmente sobre Cabo Frio. O Estevan era professor de inglês
numa faculdade. Ao saber que trouxéramos instrumentos musicais, de imediato
nos colocou em seu carro e nos levou a
casa de um colega, professor, onde
passamos o dia.
Já anoitecendo voltamos
à sua casa. Pela primeira vez armamos a barraca, assim mesmo de modo precário:
O Carlão esquecera as ferragens de fixação da barraca. Isso foi o que pareceu.
(Em Cabo Frio viu que os ferros estavam no fundo da mochila). De banho tomado,
saímos com a família para conhecer a cidade.
Continua...
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