quarta-feira, 12 de junho de 2013

DO MORRO DA GUIA...

28 – CADA VEZ MAIS PERTO

Chegamos em Viale. Como ainda tínhamos alguns trocados apelamos para o trem. O calor continuava insuportável. Os galhos de árvores parados, sem uma brisa; assim, só crescia a saudade do nosso vento nordeste. Reparamos que nesses pequenos lugarejos a grande diversão do povo era esperar pela chegada do trem. Muita gente na estação. Por ser dia santo, todos de roupas limpinhas, talvez da missa. Conhecemos umas meninas e uma delas foi em casa e trouxe uma cuia e água fervente. Curtimos o chimarrão que eles chamam de mate. Ao redor, homens de pilequinho, cheirando a vinho, levados pelos cotovelos por suas esposas. De repente o grande acontecimento do dia, o trem. Chega apitando efusivamente;  consciente de seu charme, devolve o carinho receptivo  soltando baforadas de fumaça branca.  Daqui a pouco tudo voltaria ao normal, à tranquilidade. Após longo apito, agora de modo melancólico, se afastou, primeiro devagar... depois, em disparada, sumiu no horizonte.

Rios, pontes, fazendas, bois, tudo ficou para trás e nós chegamos à Federal. Decidimos jantar decentemente, isto é, o melhor possível.  O gerente do restaurante permitiu que tomássemos uma ducha nas dependências dos funcionários. De banho tomado e  roupas limpas, nos sentamos e, de cara, pedimos um vinho.  Impossível as justificativas: íamos economizando e controlando o dinheiro  mas, de repente, lá ia a zero o saldo de caixa. Voltamos à estação pois o próximo trem sairia às três horas.

Sábado. Estávamos na estação aguardando um trem de cargas que ia em direção a Curuzu Quatiá. Organizamos o turno de vigia mas assim que adentramos nos sacos de dormir, aproximou-se um homem e nos falou baixinho:
- Muchachos... usteds  quierem viajar ahora...? Pero es tren de carga...
- Ótimo... muchas gracias, señor !
Levantamos de um salto e arrumamos as mochilas.  Viajaríamos num vagão de transportar gado (!), porém vazio. O homem nos pediu que se alguém nos flagrasse teríamos que poupá-lo...OK.  Com certa dificuldade conseguimos penetrar num dos vagões e seguindo sua orientação, ficamos deitados e  quietos no assoalho. 

O vagão estava limpo e sem mau cheiro mas o assoalho era muito desconfortável por causa de quadros de ripas anti-derrapantes. Todo irregular. Depois  da locomotiva manobrar várias vezes, para a frente e para trás, parou no ponto de partida.
Nesse momento, aproxima-se um guarda e nós nos petrificamos por algum tempo. Lanterna à mão, inspecionou todos os dezessete vagões; pareceram intermináveis aqueles minutos. Por fim, a máquina soltou um longo uivo e partiu com um solavanco. 

Lá fomos nós,  seja o que Deus quiser.  Sonolentos e sem pensar no próximo problema: como saltar com o trem em velocidade...?  A única referência que tínhamos é que a cidadezinha possuía luz elétrica. O cálculo era chegar por volta das cinco da manhã.
                                                                                                               


                                                                                                       Continua...

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