DO MORRO
DA GUIA...
28 – CADA
VEZ MAIS PERTO
Chegamos em Viale. Como ainda tínhamos alguns trocados
apelamos para o trem. O calor continuava insuportável. Os galhos de árvores
parados, sem uma brisa; assim, só crescia a saudade do nosso vento nordeste.
Reparamos que nesses pequenos lugarejos a grande diversão do povo era esperar
pela chegada do trem. Muita gente na estação. Por ser dia santo, todos de
roupas limpinhas, talvez da missa. Conhecemos umas meninas e uma delas foi em
casa e trouxe uma cuia e água fervente. Curtimos o chimarrão que eles chamam de
mate. Ao redor, homens de pilequinho, cheirando a vinho, levados pelos
cotovelos por suas esposas. De repente o grande acontecimento do dia, o trem.
Chega apitando efusivamente; consciente
de seu charme, devolve o carinho receptivo soltando baforadas de fumaça branca. Daqui a pouco tudo voltaria ao normal, à
tranquilidade. Após longo apito, agora de modo melancólico, se afastou,
primeiro devagar... depois, em disparada, sumiu no horizonte.
Rios, pontes, fazendas, bois, tudo ficou para trás e nós
chegamos à Federal. Decidimos jantar decentemente, isto é, o melhor
possível. O gerente do restaurante
permitiu que tomássemos uma ducha nas dependências dos funcionários. De banho
tomado e roupas limpas, nos sentamos e,
de cara, pedimos um vinho. Impossível as
justificativas: íamos economizando e controlando o dinheiro mas, de repente, lá ia a zero o saldo de
caixa. Voltamos à estação pois o próximo trem sairia às três horas.
Sábado. Estávamos na estação aguardando um trem de cargas que
ia em direção a Curuzu Quatiá. Organizamos o turno de vigia mas assim que
adentramos nos sacos de dormir, aproximou-se um homem e nos falou baixinho:
- Muchachos... usteds
quierem viajar ahora...? Pero es tren de carga...
- Ótimo... muchas gracias, señor !
Levantamos de um salto e arrumamos as mochilas. Viajaríamos num vagão de transportar gado
(!), porém vazio. O homem nos pediu que se alguém nos flagrasse teríamos que
poupá-lo...OK. Com certa dificuldade
conseguimos penetrar num dos vagões e seguindo sua orientação, ficamos deitados
e quietos no assoalho.
O vagão estava
limpo e sem mau cheiro mas o assoalho era muito desconfortável por causa de
quadros de ripas anti-derrapantes. Todo irregular. Depois da locomotiva manobrar várias vezes, para a
frente e para trás, parou no ponto de partida.
Nesse momento, aproxima-se um guarda e nós nos petrificamos
por algum tempo. Lanterna à mão, inspecionou todos os dezessete vagões; pareceram
intermináveis aqueles minutos. Por fim, a máquina soltou um longo uivo e partiu
com um solavanco.
Lá fomos nós, seja o
que Deus quiser. Sonolentos e sem pensar
no próximo problema: como saltar com o
trem em velocidade...? A única
referência que tínhamos é que a cidadezinha possuía luz elétrica. O cálculo era
chegar por volta das cinco da manhã.
Continua...
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