Durante 4 anos morei no Iraque -Oriente Médio- a trabalho pela Mendes Júnior International Co. numa obra de construção de uma ferrovia que ligava aquele país à Síria. Seguem algumas impressões e fotos dessa extraordinária experiência de vida ocorrida entre agosto de 1979 e maio de 1984.
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BAGDÁ: A CHEGADA
Seja o que Deus (ou Alá...) quiser,
pensei cá com o meu zíper quando o trem de pouso do Boeing tocou a pista do
Aeroporto de Bagdá, no Iraque. Eram nove e meia da noite de 06 de agosto de
1979.
Na fila para fiscalização da alfândega,
no abre-fecha e busca-rebusca das malas, é que finalmente acordava para a
realidade: “Puxa vida, cá estou no Iraque, pleno Oriente Médio, num mundo
estranho e palco de guerras contínuas”. Mas, acredite quem quiser, estava fascinado.
Lá fora, um táxi esperava para
nos levar ao Hotel Al-Mansour, reservado pela Mendes Júnior Int. Co.
para hospedagem dos funcionários recém chegados. Após o banho, devidamente
instalados no apartamento decorado com grossas cortinas de veludo e arabescos dourados,
é que sentimos a ausência do funcionário patrício que viera nos recepcionar: Aí
sim, a ficha caiu. Como naquele livro infantil de piratas senti-me “abandonado
à própria sorte...”, ou seja, teria que me virar com um inglês
claudicante e conseguir algo para comer e beber. Principalmente beber.
Depois de algumas cervejas frias
–geladas, nem pensar- no pátio interno do Al-Mansour, caímos na cama. Como
dormir, se a diferença de fuso horário -27 hs de vôo- fizera do organismo um
baralho, embaralhado e partido ao meio?
Despertado pelo chamado
pungente do Muezim do alto de um minarete, constatei mais tarde que era feriado, creio que fim do Ramadan. Saímos, eu e um amigo, para uma
volta nos arredores, reconhecendo o terreno; após perambular pelas ruas do centro,
admirando a arquitetura exótica, mesquitas com tetos abobadados, reluzentes e dourados, nos dirigimos
ao Museu do Iraque, onde permanecemos praticamente o resto do dia. Lá se
encontravam resquícios das culturas Assíria, Fenícia, Babilônica, Persa, enfim,
a recomposição fragmentada de cerca de 6.000 anos de história da civilização.
À noite, no jardim do hotel,
tivemos oportunidade de sofrer na própria pele a agressividade do calor. Um
calor diferente, sem suores; nenhuma umidade no ar. Eram mais de 23:00 h e ainda sopravam lufadas mornas de vento. Na
mesa de mármore no jardim do hotel, garrafas de cerveja, vazias, se misturavam às
moscas. Muitas moscas.
Saudade dos bares de minha terra. E, muita, do vento Nordeste.
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Ramadan – Período de jejum religioso (entre o nascer e o por do sol
as pessoas não se alimentam)
Muezim – Sacerdote que convoca os fiéis para as primeiras preces;
são cinco no decorrer do dia, sendo a última ao entardecer.
Minarete – Torre de Mesquita.
MESQUITA NO CENTRO DE BAGDÁ
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