sábado, 22 de junho de 2013

À MARGEM DO RIO EUFRATES - Crônicas



Durante 4 anos morei no Iraque -Oriente Médio- a trabalho pela Mendes  Júnior  International  Co.  numa obra de construção de uma ferrovia que ligava aquele país à Síria.  Seguem algumas impressões e fotos dessa extraordinária experiência de vida ocorrida entre agosto de  1979 e  maio de 1984. 



 


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BAGDÁ: A CHEGADA

Seja o que Deus (ou Alá...) quiser, pensei cá com o meu zíper quando o trem de pouso do Boeing tocou a pista do Aeroporto de Bagdá, no Iraque. Eram nove e meia da noite de 06 de agosto de 1979.

Na fila para fiscalização da alfândega, no abre-fecha e busca-rebusca das malas, é que finalmente acordava para a realidade: “Puxa vida, cá estou no Iraque, pleno Oriente Médio, num mundo estranho e  palco de guerras contínuas”.  Mas, acredite quem quiser, estava fascinado.

Lá fora, um táxi esperava para nos levar ao Hotel Al-Mansour, reservado pela Mendes Júnior Int. Co. para hospedagem dos funcionários recém chegados. Após o banho, devidamente instalados no apartamento decorado com grossas cortinas de veludo e arabescos dourados, é que sentimos a ausência do funcionário patrício que viera nos recepcionar: Aí sim, a ficha caiu. Como naquele livro infantil de piratas senti-me “abandonado à própria sorte...”, ou seja, teria que me virar  com um inglês claudicante e conseguir algo para comer e beber. Principalmente beber.

Depois de algumas cervejas frias –geladas, nem pensar- no pátio interno do Al-Mansour, caímos na cama. Como dormir, se a diferença de fuso horário -27 hs de vôo- fizera do organismo um baralho,  embaralhado e partido ao meio?

Despertado  pelo  chamado  pungente  do  Muezim   do  alto de um minarete,   constatei mais tarde que era feriado, creio que fim do Ramadan. Saímos, eu e um amigo, para uma volta nos arredores, reconhecendo o terreno;  após perambular pelas ruas do centro, admirando a arquitetura exótica, mesquitas com tetos abobadados,  reluzentes e dourados,  nos dirigimos  ao Museu do Iraque, onde permanecemos praticamente o resto do dia. Lá se encontravam resquícios das culturas Assíria, Fenícia, Babilônica, Persa, enfim, a recomposição fragmentada de cerca de 6.000 anos de história da civilização.  

À noite, no jardim do hotel, tivemos oportunidade de sofrer na própria pele a agressividade do calor. Um calor diferente, sem suores; nenhuma umidade no ar. Eram mais de 23:00 h  e ainda sopravam lufadas mornas de vento. Na mesa de mármore no jardim do hotel,  garrafas de cerveja, vazias, se misturavam às moscas. Muitas moscas.

Saudade dos bares de minha terra.  E, muita, do vento Nordeste.

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Ramadan – Período de jejum religioso (entre o nascer e o por do sol as pessoas não se alimentam)
Muezim – Sacerdote que convoca os fiéis para as primeiras preces; são cinco no decorrer do dia, sendo a última ao entardecer.
Minarete – Torre de Mesquita.


                                                                                                                                    MESQUITA NO CENTRO DE BAGDÁ                                                            
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