quinta-feira, 30 de maio de 2013
POESIA A ESSA HORA...? --
Desencanto
Hoje,
logo de manhã,
Alberto Caeiro deixou-me pensativo
e infeliz.
Como estou triste, José
como estou triste, Bob
como estou triste, Pietro
como estou triste, Fritz
como estou triste, Riman
como estou triste, François
e mais todos vocês
tristes do mundo inteiro.
Pelo barco que naufragou
pelo cachorro que morreu
pelo amor que acabou
pelo filho que adoeceu
pela própria alma que murchou
pela constatação de sua inutilidade.
Hoje, logo de manhã,
tive ímpetos de sair
e sem rumo
rumar pela vastidão das calçadas
dos mares e dos bares
das ferrovias,
com a mochila contendo apenas
a escova de dentes
e Fernando Pessoa.
E, com a braguilha
agressivamente desabotoada
escrachar atitudes civilizadas
e comportadas.
Parabenizar administradores
corruptos e astutos,
saudar as prostitutas decadentes de Paris
saudar os seus filhos de Viena
saudar os gigolôs da Via Veneto
saudar os tarados de Frankfurt
saudar os drogados de Amsterdam
saudar os agiotas universais.
E, pelos becos da noite
junto ao mendigo
partilhar o seu pedaço de pão,
junto a escroques,
pederastas passivos e ativos
comparar nossos medos,
junto ao bêbado mais bêbado
brindar nossos fracassos.
Hoje, 10 de julho de 1984,
ainda na cama,
qual ejaculação prontamente contida
uma lágrima precoce
estancou retida na pálpebra.
Secou.
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JPC
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