CRÔNICAS
OLHA A MERDA AÍ, WALDEMAR!
Mil, novecentos e sessenta e poucos. Sábado, talvez uma ou duas da manhã numa cidade deserta, noite tranquila e sem vento, um pouco quente e a turma sem muito o que fazer. Já faláramos das conquistas amorosas, fizéramos as relações dos melhores filmes, melhores atores, piadas recontadas (Hamilton Rosa era o mestre) e nós ali na praça Porto Rocha em frente ao Hotel Colonial, a ponto já de irmos embora.
- Gente... Vocês viram a lua...?
- Caracas! (mentira: naquele tempo ninguém falava caracas). Com certeza foi outra exclamação.
Realmente, a lua estava plena, divina, soberana,
clareando toda a praça inclusive as
barracas de Colé Colé e de Antonio
Pemba.
- E a lagoa, já repararam...?
Um mais observador chamou a atenção.
E lá fomos em direção à banca de peixes ver de perto o reflexo da lua na lagoa, paradona , um espelho. Um espetáculo convidativo à interação.
A conjunção de noite quente, lua cheia e lagoa parada
provocou espontaneamente o desafio de dar
um mergulho. Por que não?
Renato Lopes, Jacob Mureb, João Marcos, Everardo, os neurônios não garantem mas creio que
o Tipi também. Todos
caímos na água. Pelados. Completamente pelados. Era um ir e vir incansável, do corrimão da
banca para a água ,e vice-versa.
E na bagunça dos “fincões”,
“anjos”, “barrigadas” e “canivetes”, não deu para notar quando
aproximou-se quem não deveria aparecer.
- Sujou...! (2ª mentira: ninguém falava “sujou” naquele
tempo. Na verdade, foi “Olha a merda aí,
Waldemar...!”)
De pé, no centro da banca, o inesquecível e único
guarda-noturno da cidade, Sr. Zé Sampaio.
Braços cruzados, havia juntado as
calças, camisas e cuecas num bolo só,
junto a seus pés.
- Muito bonito, isso !!
Vamos saindo, já!
Entre encabulados e zombeteiros, subimos os degraus de acesso
à banca com as mãos cobrindo as partes
pudendas (à época inda se falava
pudendas...).
E o “seu” Zé Sampaio continuou, agora com caderninho e lápis nas mãos:
- Vão dizendo os nomes, aí...
Nada. Silêncio absoluto.
Após algum tempo, já aporrinhado e pra encerrar o impasse, o “seu” Zé Sampaio arrematou:
-Não é preciso dizer os nomes, não. Conheço todo mundo...
Apontando para cada um, ia anotando e falando alto... Para Tatá: “você é filho de Macário; Para Có e Tipi “ Você
são filhos de Adib. ... Você é filho de
João Nogueira; Você é filho de Mureb e você é filho de Claudio Nenêgo.
Fim da brincadeira. Fim de noite. Lá
fomos nós, cada um para a sua casa. Molhados e felizes. Mais felizes.
Hoje, a banca de
peixes não existe; o “seu” Zé e alguns
de nossos amigos já se foram.
Restaram a lua e a lagoa. E a saudade, é óbvio.
JC
HO!!! tempinho bom!!JURANDYR faz parte desta historia?? muito bom!!
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