ESPAÇO DOS COLABORADORES --
CRÔNICA --
O olhar do caminhoneiro
Ana morava em Ingazeira da Serra, cidadezinha pequena no sertão de Pernambuco. Desde que tinha nascido, 16 anos antes, Ana morava na mesma casa, dormia no mesmo quarto, e diariamente olhava pela mesma janela a rua de pouco movimento e a praça de uma árvore e nenhum banco. A vida era assim em Ingazeira da Serra: de manhã ir no grupo escolar, de tarde ajudar em casa e se debruçar na janela. Pela janela, ora de olhos abertos, ora de olhos fechados, ela sonhava com a vida, com outra janela, com outra vida.
Numa tarde quente que nenhuma folha se atrevia a mexer, Ana abriu os olhos que sonhavam na janela e ao invés de ver sua praça e árvore, viu uns olhos castanhos e meigos de um caminhoneiro que passava em frente. Eram os olhos de Pedro. Ele reduziu o motor, e continuou seu caminho com seus olhos ligados aos de Ana, que não piscou, não sorriu, não se moveu. Quando o caminhão sumiu na esquina, Ana fechou os olhos e quis chorar. Não chorou. Ficou com os olhos fechados, apertados, fazendo força para controlar seu coração que batia pela primeira vez. Ana abriu os olhos e seu coração quase parou de vez ao encontrar novamente aqueles olhos castanhos que a olhavam doce e intensamente. Ela não sabia o que fazer, mal respirava, quando Pedro sorriu. O doce do seu sorriso a amargou a alma ao pensar que ele partiria. E ele se foi. Colocou o motor em marcha e sem perder o visgo do olhar foi se afastando lentamente até virar na esquina. Nesse momento Ana sabia que ele iria novamente dar a volta no quarteirão para revê-la. Ana pensou que iria morrer; seu coração tinha uma batida doída, latejava, a boca estava colada e as pernas tremiam. Quando escutou o motor chegando ela estava paralisada e radiante, lindamente emoldurada pela janela azul. Sem perder o olhar, Pedro parou o caminhão, desceu, caminhou através da rua e parou o mais perto possível. A voz não queria sair, mas ele disse:
- Como você se chama? ...num sussurro ela conseguiu dizer “Ana”.
- Eu me chamo Pedro. Ana, você quer vir comigo? Pra sempre?
Depois da resposta o caminhão não virou a esquina, e lentamente seguiu pela rua vazia. No entanto, antes de sair da cidade, Pedro parou na delegacia para informar ao delegado que a moça o acompanhava por vontade, que ele não estava roubando ninguém, e que homem direito que era, logo iriam se casar.
Casaram, tiveram filhos, netos, e bisnetos, que até hoje carregam nos seus olhares a busca por novas janelas.
Ana morava em Ingazeira da Serra, cidadezinha pequena no sertão de Pernambuco. Desde que tinha nascido, 16 anos antes, Ana morava na mesma casa, dormia no mesmo quarto, e diariamente olhava pela mesma janela a rua de pouco movimento e a praça de uma árvore e nenhum banco. A vida era assim em Ingazeira da Serra: de manhã ir no grupo escolar, de tarde ajudar em casa e se debruçar na janela. Pela janela, ora de olhos abertos, ora de olhos fechados, ela sonhava com a vida, com outra janela, com outra vida.
Numa tarde quente que nenhuma folha se atrevia a mexer, Ana abriu os olhos que sonhavam na janela e ao invés de ver sua praça e árvore, viu uns olhos castanhos e meigos de um caminhoneiro que passava em frente. Eram os olhos de Pedro. Ele reduziu o motor, e continuou seu caminho com seus olhos ligados aos de Ana, que não piscou, não sorriu, não se moveu. Quando o caminhão sumiu na esquina, Ana fechou os olhos e quis chorar. Não chorou. Ficou com os olhos fechados, apertados, fazendo força para controlar seu coração que batia pela primeira vez. Ana abriu os olhos e seu coração quase parou de vez ao encontrar novamente aqueles olhos castanhos que a olhavam doce e intensamente. Ela não sabia o que fazer, mal respirava, quando Pedro sorriu. O doce do seu sorriso a amargou a alma ao pensar que ele partiria. E ele se foi. Colocou o motor em marcha e sem perder o visgo do olhar foi se afastando lentamente até virar na esquina. Nesse momento Ana sabia que ele iria novamente dar a volta no quarteirão para revê-la. Ana pensou que iria morrer; seu coração tinha uma batida doída, latejava, a boca estava colada e as pernas tremiam. Quando escutou o motor chegando ela estava paralisada e radiante, lindamente emoldurada pela janela azul. Sem perder o olhar, Pedro parou o caminhão, desceu, caminhou através da rua e parou o mais perto possível. A voz não queria sair, mas ele disse:
- Como você se chama? ...num sussurro ela conseguiu dizer “Ana”.
- Eu me chamo Pedro. Ana, você quer vir comigo? Pra sempre?
Depois da resposta o caminhão não virou a esquina, e lentamente seguiu pela rua vazia. No entanto, antes de sair da cidade, Pedro parou na delegacia para informar ao delegado que a moça o acompanhava por vontade, que ele não estava roubando ninguém, e que homem direito que era, logo iriam se casar.
Casaram, tiveram filhos, netos, e bisnetos, que até hoje carregam nos seus olhares a busca por novas janelas.
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Claudio Miguel da Costa Neto
LINDO!!!Muito Romântico....
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