sábado, 20 de julho de 2013

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NO CINEMA COM LAURO FARIA

A PRESENÇA DOS IRMÃOS LYDECKER

Aos domingos, em minha infância nos anos 40 e 50 do Século XX, a matinê do Cine Recreio em Cabo Frio era tão ou mais importante que a Santa Missa matinal na Igreja Matriz.  E entre aqueles dois eventos, tão díspares quantos congregadores, os folguedos infantis tinham que terminar sempre por volta do meio-dia.  Fosse praia, futebol, pipa, bola de gude ou pião, alguém gritava que tinha chegado “a” hora e todos iam correndo para casa, tomar banho, almoçar e se dirigir para a sessão dupla das 14 horas.
A fila que se formava na entrada do velho “poeira” começava na metade do dia, sempre encabeçada por um garoto conhecido por “Giba”, de quem desconhecemos a origem do apelido e seu paradeiro; espero que ainda esteja vivo e bem.  E estes irmãos que dão nome ao humilde texto, também ficavam na fila do cinema?
Não! Eles estavam na tela - quase toda semana - principalmente nas peripécias dos seriados de aventuras, que complementavam o programa cinematográfico de domingo (normalmente: um foco-jornal, trailers, desenho animado, um curta-metragem, um faroeste B, ou uma comédia, (ou) um filme sobre a selva africana e o esperado seriado). E, embora jamais tivéssemos vistos os seus rostos, a importância deles ficaria marcada para sempre em nossas memórias: Os Lydecker eram os responsáveis pelos efeitos especiais que espicaçavam nossa imaginação infantil.  É bom recordar que os seriados da época eram um mundo de cidades subterrâneas, planetas desconhecidos, civilizações perdidas, areias movediças, barcaças misteriosas e povoados assombrados. E, ainda, vales e desfiladeiros com grutas sombrias, minas abandonadas, carruagens fantasmas e lugares cheios de passagens secretas, com alçapões sinistros e muitos mais perigos em cada esquina, com vilões medonhos, mascarados ou não.  Divididos em capítulos, cada episódio terminava com um risco iminente para os protagonistas, que sempre escapavam e, na semana seguinte, enfrentavam – outra vez – uma situação limite da qual iriam se livrar. Os irmãos Lydecker, com seus trabalhos artesanais, conseguiam iludir nossas emoções tão bem que passávamos o resto da semana comentando os episódios e as prováveis maneiras do mocinho e a sua companheira escaparem das armadilhas perigosas.
E aqueles cenários que explodiam, pegavam fogo ou desapareciam debaixo de avalanches ou enchentes eram genialmente preparados pelos LYDECKER (Howard e Theodore) com minuciosas e detalhadas maquetes e miniaturas, muitos truques óticos e mecânicos que faziam a platéia se deliciar. Lembremos que, naquele tempo, os computadores não existiam e muito menos as empresas de efeitos especiais que dominam o universo cinematográfico, notadamente a INDUSTRIAL LIGHT & MAGIC, responsável por – praticamente – todos os efeitos e truques digitais dos dias de hoje. Enfatiza-se, assim, a grande importância dos Lydecker e outros técnicos daquele período nas fantasias da sétima arte.
Escrevi no terceiro parágrafo “quase toda semana”, porque os manos Lydecker eram contratados da REPUBLIC PICTURES CORPORATION, que realmente foi a Companhia que mais produziu filmes em séries (cerca de 70), juntamente com a UNIVERSAL e a COLUMBIA. De 1929 até 1956 foram realizados 231 seriados ( MASCOT: 24, e a RKO, apenas 1 ), todos sonoros; não nos interessa, aqui, os mudos, feitos antes, desde a primeira década do século passado.  Mas Cabo Frio/RJ, além das fitas de outras produtoras, foi pródigo em exibir quase 90% de toda a produção daquela que nasceu da fusão de outras pequenas empresas do ramo ( MASCOT +  LIBERTY + MONOGRAM + SUPREME + MAJESTIC ).
A REPUBLIC entrou no negócio em 1934 quando comprou – já pronto – e trazendo junto os Lydecker, o seriado “O Sertão Desaparecido” e produzindo em seguida “Guerreiros da Marinha”.
As sessões duplas das matinês se intensificaram nos Estados Unidos, na época da Grande Depressão, depois da quebra da Bolsa de Valores de New York (1929) e chegaram ao Brasil logo a seguir. Nossa garotada, então, foi beneficiada com as produções daquela época que nos fascinaram sobremaneira. Toda a glória para os artistas, técnicos, escritores e diretores desta fase e, em especial, uma coroa de louros para cada um dos irmãos Lydecker, Theodore e Howard, que – com a arte que desenvolveram - influenciaram as idéias, entre outros, dos prestigiados diretores atuais: George Lucas e sua série “Guerra nas Estrelas” e Steven Spielberg com a franquia “Indiana Jones”.

P.S. O “scanner” que ilustra a coluna foi tirado do livro THE REPUBLIC CHATERPLAYS ( 1991). Autor: R. M. HAYES.

Até breve.   THE  END.                             Lauro Affonso Faria  /   15/07/2013.

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