À MARGEM DO RIO EUFRATES - Crônicas
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O DESERTO
Por força de minhas atividades na
coordenação da Segurança do Trabalho da empresa, frequentemente percorria os acampamentos das frentes avançadas:
Kms 280; 340, 450 e outros, cruzando o
deserto.
Uma das curiosidades que
observava no trajeto eram as frentes de
serviço desativadas: na medida em que a obra avançava, na área do acampamento desativado
brotava uma graminha verde, viçosa, testemunha
que ali havia sido um ponto de abastecimento de caminhões-pipa. A água era bombeada do Rio Eufrates que corria em paralelo à estrada e servia para molhar, ou
aguar no linguajar da obra, as pistas de terra.
Nessas constantes viagens em
certa época, diárias, sempre me perguntava o porquê de tantas pontes e
viadutos, denominadas Obras Especiais, já que não existiam rios no deserto. Só
mais tarde, ao final da obra, pude
observar que no auge do verão, em
consequência do degelo das montanhas do Norte surgiam, da noite para o dia, uma infinidade
de riachos e rios de razoável
correnteza, em pleno deserto.
As estradas de acesso às frentes
de serviço eram extremamente precárias e o asfalto ia caindo de qualidade até que, de
repente, desaparecia de vez. Dali em diante era só terra amarela com uma poeira
fina, e que ao entardecer, confundia-se facilmente com o deserto. Os pequenos
morros e dunas assemelhavam-se, repetitivos.
Certa ocasião, quando dei conta havia me extraviado da rota, “tô perdido...” pensei, enfiando-me
deserto a dentro. Por sorte...
...deparei-me com um grupo de nômades, com túnicas extravagantes
conduzindo um bando de camelos (acho o termo cáfila meio pernóstico...). Estranhos animais os camelos, com bocas sempre ruminando e mastigando vento, e de seus maxilares desencontrados.
Os beduínos, sérios e
desdentados, cordiais embora rudes, me serviram maia em sua tenda e me redirecionaram
para a estrada. Não sem antes me
proporem um escambo de 3 camelos pela picape... Pena a minha garagem não caber
os três camelos...
Foi por pouco tempo, não mais que
um par de horas, mas o suficiente para
sentir medo e um sentimento de total impotência,
quase pânico.
NOTA: O trecho acima –em itálico- foi uma fantasia (licença
poética!!) calcada em lembranças de “As mil e uma noites”, enquanto dirigia em infindáveis e monótonos retões.
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Maia - Água
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