domingo, 14 de julho de 2013


À MARGEM DO RIO EUFRATES - Crônicas

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O  DESERTO


Por força de minhas atividades na coordenação da Segurança do Trabalho da empresa,  frequentemente  percorria os acampamentos das frentes avançadas:  Kms 280; 340, 450 e outros, cruzando o deserto.

Uma das curiosidades que observava no trajeto eram  as frentes de serviço desativadas: na medida em que a obra avançava, na área do acampamento desativado brotava  uma graminha verde, viçosa, testemunha que ali havia sido um ponto de abastecimento de caminhões-pipa. A água  era bombeada do Rio Eufrates que corria  em paralelo à estrada e servia para molhar, ou aguar no linguajar da obra,  as pistas de terra.

Nessas constantes viagens em certa época, diárias, sempre me perguntava o porquê de tantas pontes e viadutos, denominadas Obras Especiais, já que não existiam rios no deserto. Só mais tarde, ao final da obra,  pude observar que no auge do verão, em  consequência do degelo das montanhas do Norte  surgiam, da noite para o dia, uma infinidade de  riachos e rios de razoável correnteza,  em pleno  deserto.

As estradas de acesso às frentes de serviço eram extremamente precárias e o  asfalto ia caindo de qualidade até que, de repente, desaparecia de vez. Dali  em diante era só terra amarela com uma poeira fina, e que ao entardecer, confundia-se facilmente com o deserto. Os pequenos morros e dunas assemelhavam-se, repetitivos.

Certa ocasião, quando  dei conta havia me  extraviado da rota, “tô perdido...” pensei, enfiando-me deserto a dentro.  Por sorte...

...deparei-me com um grupo de nômades, com túnicas extravagantes conduzindo um bando de camelos (acho o termo cáfila  meio pernóstico...).  Estranhos animais os camelos, com  bocas sempre ruminando e mastigando vento,  e de seus maxilares desencontrados.
Os beduínos,  sérios e desdentados,  cordiais embora rudes,  me serviram maia  em sua tenda e me redirecionaram  para a estrada. Não sem antes me proporem um escambo de 3 camelos pela picape... Pena a minha garagem não caber os três  camelos...

Foi por pouco tempo, não mais que um par de horas,  mas o suficiente para sentir  medo e um sentimento de total impotência, quase pânico.


NOTA: O trecho acima –em itálico- foi uma fantasia (licença poética!!) calcada  em  lembranças de “As mil e uma noites”, enquanto dirigia  em infindáveis e monótonos retões.

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Maia -  Água

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